Opas alerta: é preciso aumentar investimentos em saúde mental nas Américas [1]
O relatório “A carga dos transtornos mentais na região das Américas, 2018” (em inglês e em espanhol [4]), indica que os países da região devem aumentar o nível de financiamento atual para atender de forma satisfatória as necessidades das pessoas com transtornos mentais. Os déficits de financiamento em saúde mental variam de três vezes a mais que os gastos atuais em países de alta renda a 435 vezes os gastos nos países de mais baixa renda da região.
Ferramentas
Segundo a assessora regional em Saúde Mental da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Claudina Cayetano, “embora esteja claro que existam grandes lacunas de financiamento, muito ainda pode ser alcançado por meio da realocação de fundos existentes para a integração da saúde mental à atenção primária e aos recursos comunitários”. Para a representante, “o relatório da Opas fornece aos países as informações e as ferramentas necessárias para responder melhor aos transtornos mentais como uma prioridade global em matéria de saúde e desenvolvimento”.
O relatório aponta que apesar dos transtornos mentais serem responsáveis por mais de um terço do número total de incapacidades nas Américas, os investimentos atuais estão muito abaixo do necessário para abordar sua carga para a saúde pública. A Opas pede aos países que aumentem os orçamentos de saúde mental e destinem recursos para as intervenções de custo-benefício com melhor comprovação.
Substâncias
Na América Latina e Caribe, os problemas de saúde mental, incluindo o uso de substâncias psicoativas, respondem por mais de um terço da incapacidade total na região. Desse percentual, os transtornos depressivos estão entre as maiores causas de incapacidade, com 7,8% do total.
A América do Sul, em geral, apresenta maiores proporções de incapacidade devido a esse transtorno mental comum. Paraguai, Brasil, Peru, Equador e Colômbia são os cinco países que aparecem no topo do ranking de incapacidade devido à depressão. De acordo com o relatório, um outro aspecto importante dos transtornos depressivos é que eles afetam principalmente os jovens.
A segunda maior incidência de transtornos é o da ansiedade. O estudo também destaca as perdas causadas pelo suicídio nas Américas, que recaem principalmente sobre as populações mais jovens em idade ativa. Dados indicam que 60% dos quase 100 mil suicídios ocorreram entre pessoas de 15 a 50 anos de idade. Teriam sido perdidos ao todo 4.129.576 anos de vida, dos quais cerca de 75% somente por esse mesmo grupo etário.
A América Central tem uma proporção maior de incapacidades devido a transtornos bipolares, transtornos que iniciam na infância e epilepsia, quando comparada a outras sub-regiões. Os Estados Unidos e o Canadá apresentam um maior número de incapacidades por esquizofrenia e demência, assim como pelas taxas de transtornos por uso de opioides.
Hospitais Psiquiátricos
De acordo com o relatório, o investimento destinado à saúde mental representa, em média, apenas 2% do orçamento de saúde dos países e, dessa porcentagem, cerca de 60% se destina a hospitais psiquiátricos.
Cayetano explicou que “os países de baixa renda, em particular, agravam sua carência de recursos ao alocarem escassos fundos em hospitais psiquiátricos. Isso significa que as pessoas com os problemas de saúde mental mais comuns, como depressão, ansiedade e outros transtornos que podem ser eficientemente atendidos na comunidade, ficam sem atendimento”.
O investimento em hospitais psiquiátricos contraria as recomendações da Opas/OMS, que pedem o fechamento desses locais e a prestação de serviços integrados para transtornos mentais na atenção primária ou em hospitais gerais, acompanhado de apoio social.
O Opas acredita que essas medidas, além de serem menos dispendiosas, fazem que pessoas afetadas por transtornos mentais sejam mais propensas a procurar tratamento. Isso porque é mais fácil ter acesso a serviços locais e estes não levam ao estigma e ao isolamento geralmente associados aos hospitais psiquiátricos.
Saúde Mental
De acordo com o relatório, os desafios de financiamento adequado dos serviços de saúde mental incluem as inconsistências nos dados relatados sobre investimentos dos países nessa área, a carga subestimada dos transtornos mentais e a necessidade de vontade política para enfrentar mudanças para melhorar os serviços de saúde mental.
Prioridade
O relatório recomenda ainda os países a fazer melhorias significativas nos serviços de saúde mental ao redirecionarem o orçamento dos hospitais psiquiátricos para o financiamento de serviços de saúde mental comunitários e de atenção primária.
O alvo seria a maior parte da carga de doenças resultante de transtornos de humor e suicídio, transtornos por uso de substâncias e morte por overdose ou acidentes e doenças relacionadas ao álcool.
Para Cayetano, “as pessoas com transtornos mentais continuam sem receber tratamento adequado e eficaz devido à falta de acesso aos serviços de saúde mental, ao estigma cultural e à pouca capacidade resolutiva da atenção primária”.
A saúde mental é cada vez mais reconhecida como uma prioridade global de saúde e desenvolvimento econômico. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3, por exemplo, se refere explicitamente ao compromisso de alcançar uma cobertura universal de saúde que inclua “a saúde mental e o bem-estar”.