OMS atualiza lista de medicamentos essenciais para incluir tratamentos importantes contra câncer e diabetes [1]

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou edições atualizadas de suas Listas Modelo de Medicamentos Essenciais (LME) e Medicamentos Essenciais para Crianças (LMEc), adicionando novos tratamentos para vários tipos de câncer e para diabetes com comorbidades associadas, como obesidade. Medicamentos para fibrose cística, psoríase, hemofilia e doenças relacionadas ao sangue estão entre as outras adições.

A LME e a LMEc da OMS incluem medicamentos para as necessidades prioritárias de saúde das populações. São adotadas em mais de 150 países, servindo de base para compras do setor público, fornecimento de medicamentos e seguros de saúde, além de esquemas de reembolso. As revisões marcam a 24ª edição da LME da OMS e a 10ª edição da LMEc.

“As novas edições das listas de medicamentos essenciais marcam um passo significativo em direção à expansão do acesso a novos medicamentos com benefícios clínicos comprovados e com alto potencial de impacto na saúde pública global”, disse a Dra. Yukiko Nakatani, Diretora Geral Assistente de Sistemas de Saúde, Acesso e Dados.

Lançadas em 1977, principalmente para promover melhor acesso a medicamentos em países em desenvolvimento, as Listas Modelo da OMS se tornaram uma ferramenta de política global confiável para decisões relacionadas à seleção e cobertura universal de medicamentos em todos os sistemas de saúde.

O Comitê de Especialistas da OMS para a Seleção e Uso de Medicamentos Essenciais analisou 59 solicitações, incluindo 31 propostas para a inclusão de novos medicamentos ou classes de medicamentos. Como resultado, 20 novos medicamentos foram adicionados à LME e 15 à LMEc, juntamente com novas indicações de uso para sete produtos já listados. As listas atualizadas agora incluem um total de 523 medicamentos essenciais para adultos e 374 para crianças, refletindo as necessidades mais urgentes de saúde pública.

Medicamentos contra o câncer

O câncer é a segunda principal causa de morte no mundo, ceifando quase 10 milhões de vidas a cada ano e sendo responsável por quase uma em cada três mortes prematuras por doenças crônicas não transmissíveis. Os tratamentos contra o câncer têm sido um dos principais focos da EML da OMS na última década. Com os medicamentos contra o câncer representando hoje cerca de metade de todas as novas aprovações de medicamentos pelas agências reguladoras, o Comitê de Especialistas aplica critérios rigorosos para recomendar apenas as terapias que oferecem o maior benefício clínico. Como resultado, poucos medicamentos contra o câncer aprovados são incluídos – apenas aqueles que comprovadamente prolongam a vida em pelo menos 4 a 6 meses.

Foram avaliadas sete solicitações, abrangendo 25 medicamentos contra o câncer. Como parte de esforços mais amplos para reduzir as desigualdades no tratamento do câncer, o Comitê recomendou o aumento do acesso aos inibidores do ponto de controle imunológico PD-1/PD-L1, uma classe de medicamentos de imunoterapia que auxilia o sistema imunológico do corpo a reconhecer e atacar as células cancerígenas com mais eficácia. O pembrolizumabe foi adicionado à LME como monoterapia de primeira linha para câncer cervical metastático, câncer colorretal metastático e câncer de pulmão de células não pequenas metastático. Para este último, o atezolizumabe e o cemiplimabe são incluídos como alternativas terapêuticas.

O Comitê também considerou diversas estratégias recomendadas por especialistas – destacadas no relatório de especialistas em câncer [4]– com o objetivo de melhorar o acesso e a acessibilidade dos tratamentos contra o câncer. O Comitê endossou estratégias clínicas e de sistemas de saúde baseadas em evidências, incluindo abordagens de otimização de doses, para melhorar o acesso. O Comitê enfatizou que, embora as reformas do sistema de saúde exijam tempo e ação governamental, estratégias clínicas podem ser implementadas imediatamente para gerar benefícios mais rápidos, especialmente em ambientes com recursos limitados.

Medicamentos para diabetes e obesidade

Diabetes e obesidade são dois dos desafios de saúde mais urgentes que o mundo enfrenta atualmente. Mais de 800 milhões de pessoas viviam com diabetes em 2022, com metade delas sem tratamento. Ao mesmo tempo, mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo são afetadas pela obesidade, e as taxas estão aumentando especialmente rápido em países de baixa e média renda. Essas duas condições estão intimamente ligadas e podem levar a sérios problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas e insuficiência renal.

O Comitê de Especialistas da OMS analisou fortes evidências científicas mostrando que um grupo de medicamentos chamados agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1) pode ajudar pessoas com diabetes tipo 2 — especialmente aquelas que também têm doença cardíaca ou renal — melhorando o controle do açúcar no sangue, reduzindo o risco de complicações cardíacas e renais, auxiliando na perda de peso e até mesmo diminuindo o risco de morte prematura.

Agonistas do receptor de GLP-1 – semaglutida, dulaglutida e liraglutida – e o agonista duplo do receptor de GLP-1/polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP) (tirzepatida) foram adicionados à LME. São usados ​​como terapia hipoglicemiante para adultos com diabetes mellitus tipo 2, doença cardiovascular estabelecida ou doença renal crônica e obesidade (definida como índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m² ) . Isso fornece orientações claras aos países sobre quais pacientes podem se beneficiar mais dessas terapias.

Os altos preços de medicamentos como semaglutida e tirzepatida estão limitando o acesso a esses medicamentos. Priorizar aqueles que mais se beneficiariam, incentivar a concorrência de genéricos para reduzir os preços e disponibilizar esses tratamentos na atenção primária – especialmente em áreas carentes – são essenciais para expandir o acesso e melhorar os resultados em saúde. A OMS continuará monitorando os desenvolvimentos, apoiando estratégias de preços justos e ajudando os países a melhorar o acesso a esses tratamentos transformadores.

“Uma grande parcela dos gastos diretos com doenças crônicas não transmissíveis é destinada a medicamentos, incluindo aqueles classificados como essenciais e que, em princípio, deveriam ser financeiramente acessíveis a todos”, afirmou Deusdedit Mubangizi, Diretor de Políticas e Padrões para Medicamentos e Produtos de Saúde da OMS. “Alcançar o acesso equitativo a medicamentos essenciais exige uma resposta coerente do sistema de saúde, apoiada por forte vontade política, cooperação multissetorial e programas centrados nas pessoas que não deixem ninguém para trás.”

Mais detalhes das recomendações do Comitê de Especialistas, descrevendo as adições, alterações e remoções de medicamentos e formulações, e decisões de não recomendar medicamentos, estão disponíveis no Resumo Executivo [5]