Ministros da Saúde do Mercosul se comprometem a priorizar saúde em planos de adaptação às mudanças climáticas [1]
[4]Ministros da Saúde do Mercosul e dos Estados associados assinaram uma declaração para colocar a saúde à frente e no centro dos planos nacionais de adaptação às mudanças climáticas. Essa medida tem o objetivo de assegurar que os sistemas de saúde se tornem resilientes a essas mudanças e que a prevenção e a promoção da saúde estejam totalmente integradas aos serviços de informação sobre temas climáticos, de acordo com as recomendações da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
A declaração foi assinada na XLIII Reunião de Ministros da Saúde do Mercosul e Estados Associados, realizada em 23 de novembro em Montevidéu, República Oriental do Uruguai. O encontro ocorreu no momento em que líderes de todo o mundo se reúnem na 24ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP24) em Katowice, Polônia. Lá, os países discutirão o plano de implementação do Acordo de Paris de 2015, que visa coordenar os esforços de informação para reduzir o aquecimento global.
“As mudanças climáticas se tornam cada vez mais uma enorme ameaça tanto para os sistemas de saúde quanto para a saúde pública na região das Américas.”
A mudança climática foi considerada como “a maior ameaça mundial à saúde do século 21”. De fato, o clima pode afetar a saúde de várias formas, inclusive por condições meteorológicas extremas e desastres, ondas de calor, contaminação de alimentos e água e aumento de doenças transmitidas por vetores. As mudanças climáticas também afetam os sistemas socioeconômicos que impactam na saúde pública, inclusive por meio da insegurança alimentar e da água, escassez de recursos e deslocamentos forçados de pessoas.
“A mudança climática se torna cada vez mais uma enorme ameaça tanto para os sistemas de saúde quanto para a saúde pública nas Américas”, disse Marcos Espinal, diretor de Doenças Transmissíveis e Determinantes Ambientais da Saúde da OPAS. “É vital que os países da região se comprometam a integrar totalmente a saúde em todos os seus planos de adaptação às mudanças climáticas. A declaração do Mercosul é um ótimo exemplo desse compromisso”.
Os impactos da mudança climática na saúde já estão sendo observados em todas as Américas. O aumento da temperatura pode provocar insolação, principalmente em idosos, e aumentar a duração das secas e o risco de incêndios florestais. Nos últimos dois anos, mais de 200 mil pessoas na região foram deslocadas como resultado de incêndios florestais e milhões de dólares foram gastos para reparar danos estruturais.
O crescimento das temperaturas também aumenta o número de tempestades tropicais intensas e inundações que atingem a região, com 335 desastres climáticos que ocorreram entre 2005 e 2014, um aumento de 14% em relação à década anterior. Em 2017, mais de 625 mil pessoas foram afetadas por chuvas intensas no Peru e mais de 270 mortes foram registradas na Colômbia devido a deslizamentos de terra.
A mudança climática também deve expandir a distribuição geográfica de doenças transmitidas por vetores, como a malária e a doença de Chagas, além de prolongar a temporada de transmissão. A região também foi afetada por recentes surtos de arboviroses, como zika, chikungunya e febre amarela.
A OPAS está trabalhando para apoiar iniciativas e ações regionais sobre mudança climática e saúde, entre outras medidas, mediante a provisão de criação de capacidades e apoio técnico para sistemas de alerta precoce de múltiplos perigos e na preparação de Planos Nacionais de Adaptação às mudanças climáticas de saúde. Além disso, a OPAS está apoiando o setor da saúde a liderar pelo exemplo, por meio de aquisições sustentáveis e da implementação de instalações de assistência à saúde “inteligentes”, que visam aumentar sua resiliência a desastres enquanto reduzem seu impacto ambiental.
Declaração do Mercosul
A declaração do Mercosul faz com que os Ministérios da Saúde dos países membros se comprometam a liderar o desenvolvimento de estratégias de saúde como elementos essenciais dos Planos Nacionais de Adaptação às Mudanças Climáticas (H-NAPs). Essas estratégias se concentram no reconhecimento das vulnerabilidades à saúde relacionadas às mudanças do clima e propõem maneiras de aumentar a resiliência do sistema de saúde e reduzir as desigualdades.
Assinando a declaração, os países também se comprometem a gerar evidências sobre saúde e mudanças climáticas, a fim de desenvolver indicadores, facilitar o intercâmbio de informações e informar tomadas de decisões.
Saúde e mudanças climáticas na COP24
A COP24 está sendo realizada em Katowice, Polônia, de 3 a 14 de dezembro de 2018. O objetivo principal da Conferência é chegar a um consenso sobre como os países devem implementar o Acordo de Paris e relatar seu progresso.
Em 5 de dezembro, a Organização Mundial da Saúde lançou seu relatório – COP 24 Special Report: Health and Climate Change. O documento destacou que, embora tenha havido um progresso positivo no combate às questões de saúde e mudanças climáticas, ainda há um longo caminho a percorrer. O relatório fornece uma série de recomendações para os governos sobre como maximizar os benefícios de saúde para combater as mudanças climáticas e evitar os piores impactos sobre a saúde desse desafio global.