Em evento com debates e conferências, EPSJV comemora 29 anos de fundação e 10 anos como Centro Colaborador da OMS
Membro e atual Secretaria Executiva da RETS, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) comemorou, no dia 27 de agosto, 29 anos de fundação (completados em 19 de agosto) e 10 anos como Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Educação de Técnicos em Saúde. Foi graças à essa designação da OMS em 2004 que, em setembro de 2005, com a transferência da Secretaria Executiva para a EPSJV, a RETS foi reativada. A programação do evento incluiu conferências, debates, apresentação musical e lançamento de livros.
A importância da escola na formação dos trabalhadores técnicos da saúde foi lembrada na mesa de abertura do evento, formada pelo presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, a representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Roberta Santos, e o diretor da EPSJV, Paulo César de Castro Ribeiro. “A Escola é uma das relações mais longas que temos como centro colaborador. Desde 2004, a escola atua de maneira forte e teve importantes conquistas”, enfatizou Roberta. O presidente da Fiocruz fez questão de saudar a presença do ex-presidente da Fiocruz, Luiz Fernando Ferreira. “Luiz está presente em quase todos os aniversários desta escola, da qual é um dos fundadores, e quer continuar acompanhando o que idealizou há 29 anos”, ressaltou e completou: “O trabalho feito pela EPSJV é de sempre se reinventar, com uma densidade e reconhecimento nacional e internacional”, enfatizou.
Sobre o papel da EPSJV como Centro Colaborador, Gadelha ressaltou que é preciso pensar em globalização e as contradições que ela traz localmente. “Estamos fazendo isso de maneira muito intensa, a cooperação deve ser sempre estruturante e horizontal”, ressaltou. Ainda na abertura do evento, a Escola recebeu uma homenagem do Instituto Nacional de Câncer (Inca), por meio da representante Valquíria Matos, pela parceria entre as instituições para a realização de cursos de formação técnica.
Políticas de Saúde
“Políticas de Saúde na América Latina" foi o tema da conferência de abertura do evento, apresentada por Oscar Feo, coordenador nacional da Universidade de Ciências da Saúde da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba). Oscar iniciou sua apresentação relembrando quais foram as principais mudanças na área de saúde nos últimos 30 anos. Segundo ele, a primeira mudança fundamental foi o fato de a saúde ter entrado no circuito de acumulação e produção de capital, tendo o Complexo Médico Industrial Financeiro da Saúde (CMIF) como ator principal das políticas públicas. “Há 30 anos, o que o médico precisava para fazer uma consulta cabia em uma bolsa. Hoje, temos uma medicina altamente tecnológica que resulta em uma desumanização da saúde”, observou.
Oscar Feo também falou sobre os quatro principais negócios na área de saúde: a doença, a venda de tecnologia, de serviços clínicos e de planos de saúde. “Hoje, a indústria adoece pessoas sadias, inventa doenças. Fabrica novas enfermidades para vender novos medicamentos. A indústria não cria remédios para curar, mas para cronificar. E o Estado financia estas empresas, comprando tudo isso: serviços clínicos, farmacêuticos e seguros. O sistema público de saúde, hoje, é só para os pobres”.
Ele lembrou ainda que a saúde está entre os grandes negócios mundiais. Em recente pesquisa publicada na Revista Fortune, os serviços farmacêuticos e do complexo médico e de equipamentos se encontram em 3º e 4º lugar no ranking das indústrias mais rentáveis, perdendo apenas para a indústria eletrônica e de telecomunicações. “Para eles, portanto, curar não é rentável”, destacou o professor, informando ainda que existe uma união entre o complexo militar, complexo médico-industrial e meios de comunicação. Entre os exemplos, citou a General Electric como detentora da NBC e Westinghouse da CBS. “O papel das empresas de comunicação é informar. E ela cria matrizes de opinião. Primeiro, elas mostram um cenário de epidemia, vendem a calamidade. Depois, vendem as soluções como as vacinas e os medicamentos”, ressaltou.
Cooperação internacional
Na parte da tarde, foi apresentado o painel “Cooperação Internacional: organismos internacionais e as políticas de saúde na América Latina”, por João Márcio Mendes Pereira, doutor em História e professor de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp); e Maria Lucia Frizon Rizzotto, doutora em Saúde Coletiva e professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioste).
João Márcio falou sobre as principais questões teóricas e históricas da cooperação internacional no mundo e também sobre as tendências mais recentes sobre o tema. O professor lembrou que após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, a “ajuda” entre os países passou a ser tratada como “cooperação”. “A cooperação sempre envolve um discurso bem-intencionado, mas isso se choca com o caráter discricionário de quem aciona a cooperação. Quem ajuda diz: eu ajudo quem eu quero. Os que mais se beneficiam das desigualdades de poder do mundo, são os que constroem os elos de cooperação”, disse.
O professor falou também sobre os quatro principais enfoques teóricos da cooperação internacional - a cooperação como instrumento de política externa dos estados doadores; a cooperação como instrumento necessário para a governança global; a avaliação dos resultados da assistência ao desenvolvimento, criando indicadores para mensurar o que é transferido e o que é aplicado; e a teoria da assistência ao desenvolvimento como uma rede e uma perspectiva de poder, identificando os padrões de gestão que devem ser difundidos. “‘A cooperação é uma forma de fazer política, que teve sua estreia no Plano Marshall, no pós-guerra, quando os Estados Unidos emprestaram dinheiro a fundo perdido aos países europeus em troca de algumas exigências. A partir daí, os Estados Unidos montaram sua estrutura econômica de poder e contra o comunismo”, destacou João.