Escola Politécnica promove webinário “Perfil e trajetórias educativas dos técnicos em saúde no Campus Virtual de Saúde Pública”
No ano em que completa 20 anos como Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Educação de Técnicos em Saúde, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) promoveu, no dia 16 de abril, o webinário “Perfil e trajetórias educativas dos técnicos em saúde que realizam cursos no CVSP/Opas”. Realizado em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o evento tem como objetivo apresentar a plataforma e a metodologia utilizada em uma pesquisa que analisa a trajetória e a experiência de usuários técnicos de saúde que já fizeram cursos no Campus Virtual de Saúde Pública da Opas por meio de uma caraterização do perfil sociodemográfico e laboral desses trabalhadores e do levantamento dos cursos oferecidos com maior frequência pelos técnicos de saúde ao nível regional.
Mesa de abertura
“Além de 20 anos de centro colaborador, também completamos 20 anos da reativação da RETS [Rede Internacional de Educação de Técnicos em Saúde]. Trazermos luz a esse contingente enorme de trabalhadores técnicos é fundamental para pensarmos o fortalecimento dos sistemas nacionais de saúde dos países que compõem o continente americano e em todos os países que temos cooperações”, afirmou Anamaria Corbo, diretora da EPSJV, na mesa de abertura.
A diretora também falou sobre a importância de o projeto dar visibilidade aos trabalhadores técnicos em saúde. “Sabemos que os trabalhadores técnicos formam o maior percentual da força de trabalho em saúde e, desde a criação da RETS, falamos da importância de trazermos visibilidade sobre quem são esses trabalhadores, onde estão, o que fazem, quais qualificações e de que forma as instituições podem fortalecer e qualificar esses trabalhadores. É nesse âmbito que o projeto se insere”, destacou.
No mesmo sentido, Gisele Almeida, da Unidade de Recursos Humanos em Saúde da Opas/OMS, ressaltou que a jornada de aprendizagem e amadurecimento é um passo importante para dar visibilidade a esse grupo de trabalhadores de saúde. “Apesar de seu número e importância, acabam diluídos na região das Américas, devido às grandes diferenças que nós temos relacionadas às atribuições e formação desses trabalhadores”, comentou. E acrescentou: “Nessa trajetória de trabalho de recursos humanos em saúde, encontramos uma situação na região das Américas em que persistem as desigualdades nas condições de trabalho e salariais dos profissionais de saúde e falta de apoio psicossocial com repercussões na saúde mental e no bem-estar. Existe também uma baixa atração e retenção de trabalhadores em áreas rurais, remotas e desatendidas; sistemas de informação sobre a força de trabalho em saúde são inexistentes, incompletos ou fragmentados, não permitindo o uso desses dados. Diante disso, ações conjuntas são essenciais para atingirmos nossos objetivos comuns”.
Campus Virtual de Saúde Pública
Ao iniciar a sua apresentação, Gabriel Listovsky, diretor do CVSP/Opas, enfatizou: “É indispensável conhecer esses trabalhadores, saber onde eles atuam, quais são as suas preocupações e suas necessidades de formação. Nesse sentido, esse encontro é fundamental para a tomada de decisões”.
A missão do CVSP, segundo Gabriel, é contribuir para o desenvolvimento das capacidades e competências dos trabalhadores de saúde, apoiando a transformação dos serviços e as práticas de saúde pública na região das Américas. “O nosso desafio é que cada um dos trabalhadores da saúde possa trabalhar da melhor forma e pensando em nossas comunidades. Os nossos princípios, que são alinhados com os valores da Opas, têm a ver com a perspectiva do bem público, da Educação Permanente em Saúde, dos Recursos abertos e interoperacionais, da Gestão colaborativa e da Sustentabilidade”, afirmou.
Atualmente, são oferecidos no CVSP cursos em todas as áreas técnicas da Opas/OMS. “Temos cerca de 100 cursos de autoaprendizagem, abertos nos quatro idiomas oficiais da organização. Em 2023, tínhamos um total de usuários de três milhões e seis milhões de matrículas nos cursos. Ou seja, isso quer dizer que os que chegam para um curso se inscrevem depois em outros. Além disso, temos usuários de mais de 225 países”, apontou.
Para finalizar, Gabriel apresentou alguns dados sobre técnicos em saúde matriculados no CVSP. “Do total de usuários, cerca de 15% se identificam como técnicos. Excluindo enfermagem, os três primeiros grupos de profissionais que se identificam como técnicos são os técnicos de laboratório, os agentes comunitários de saúde e trabalhadores de cuidado. Além disso, países com amplas zonas rurais, como Bolívia, tem reportado dificuldades para acessar a oferta educativa no campus virtual”, concluiu.
Panorama de parametrização e padronização sobre ocupações técnicas em saúde da OMS
“O planejamento eficaz, o gerenciamento e a elaboração de políticas para o desenvolvimento de uma força de trabalho em saúde adequada às necessidades da população e dos serviços de saúde requer dados e informações confiáveis. Nesse sentido, a OMS lançou, em 2017, as Contas Nacionais da Força de Tralho em Saúde (CNPS)”, afirmou Ana Paula Cavalcante, da Unidade de Recursos Humanos em Saúde da Opas/OMS. Segundo ela, a CNPS é uma ferramenta que permite aos países melhorar progressivamente a disponibilidade, qualidade e uso dos dados de RHS mediante o monitoramento de conjunto de indicadores e outros objetivos de saúde.
Ainda de acordo com Ana Paula, a coleta dos dados acontece da seguinte forma: “Os dados da força de trabalho em saúde são monitorados e relatados na plataforma das contas nacionais pelos pontos focais nomeados por cada estado-membro anualmente, seguindo as normas e padronizações apresentadas; esses dados são avaliados por meio de um processo que envolve análise de dados, triangulação de informação, entre outros métodos, nos quais as discrepâncias são verificadas com esses pontos focais. A OMS também recebe dados por fontes e parceiros externos, como a OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico]. Os dados são publicados anualmente, tanto no portal das contas nacionais, quanto no Observatório Global de Saúde”.
Perfil e trajetórias educativas dos técnicos em saúde
Analista de dados que compõe a equipe do projeto, Fernando Santoro apresentou os resultados preliminares da pesquisa sobre o perfil dos técnicos que utilizam o Campus Virtual. A apresentação discutiu o processo detalhado de limpeza e análise de dados dos registros de profissionais que escolheram a opção "outros" ao declarar suas profissões durante o cadastro na plataforma.
Fernando explicou que foi realizado um recorte temporal, filtrando apenas matrículas de cursos de autoaprendizagem, no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2023, dividindo em pré-pandemia, pandemia e pós-pandemia. Em seguida, os dados foram filtrados para isolar os registros dos profissionais que não se encaixavam nas categorias pré-definidas, reduzindo a base para 1.218.025 matrículas. Por fim, foi realizado o filtro dos dados eliminando categorias que não pertencem ao nível técnico, reduzindo a base para 531.243 matrículas.
Segundo o analista de dados, depois de um refinamento, foi possível recuperar 153.622 matrículas válidas, representando 29% do total após o primeiro filtro de limpeza. “A metodologia adotada permitiu preceder uma análise mais aprofundada e precisa dos tipos de profissionais que utilizam o campus virtual para autoaprendizagem, resgatando 153.622 matrículas não padronizadas. Este estudo preliminar é fundamental para entender melhor como diferentes grupos profissionais se engajam com os recursos de educação a distância oferecidos pelo CVSP, contribuindo para futuras melhorias e adaptações do sistema às necessidades dos usuários”, ressaltou Fernando.
Após selecionar os cursos autoadministrados e classificar todos os técnicos matriculados no campus virtual em 23 categorias da Classificação Internacional de Ocupações, o coordenador nacional do Programa Nacional de Formação de Enfermagem (Pronafe), da Argentina, Gabriel Muntaabski, que também compõe a equipe do projeto, destacou que as primeiras abordagens da análise mostram um crescimento de pessoas e matrículas no CVSP superior a 400% para o período citado, apresentando 340.088 cadastrados com uma média de 2,2 matrículas por cadastrado. “A maior prevalência é apresentada pelos técnicos de enfermagem, seguidos pelos agentes comunitários de saúde, técnicos de laboratório e administradores de saúde”, afirmou
Esse trabalho, de acordo com ele, apresenta desafios de diferentes ordens. "A continuidade do projeto com a identificação por país da prevalência das profissões e cursos escolhidos pelos técnicos de saúde; o comportamento dos diferentes países nos períodos pré-pandemia, pandemia e pós-pandemia e as áreas vagas de oferta ou procura. São necessárias adaptações para alcançar a mais ampla cobertura de formação desse importante grupo de força de trabalho em saúde das Américas”, concluiu.