Você está aqui

Publicado em: 15/08/2014

Falta de notificação adequada desafia o controle da tuberculose no mundo

imprimirimprimir 
  • Facebook
Agência Fiocruz

Em palestra no curso de especialização em Pneumologia Sanitária, a pesquisadora do Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF) Margareth Dalcolmo abordou a situação epidemiológica, os tratamentos usuais e as perspectivas com o advento das novas descobertas para a tuberculose (TB) resistente. “Hoje, existem no mundo aproximadamente 450 mil casos de tuberculose resistente e 150 mil mortes em decorrência dessa grave forma da doença. O Brasil, que apresenta uma queda consistente na mortalidade nos últimos dez anos, tem uma situação diferenciada em relação aos demais países da América Latina por contar com uma série de ações de controle e tratamento da tuberculose”. O CRPHF é vinculado à Escola Nacional de Saúde Pùblica (Ensp/Fiocruz).

Inicialmente, Dalcolmo apontou os países com alta carga de tuberculose XDR-TB e resistência à doença, de acordo com dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde em 2013, e revelou que dois terços do total estimado de pessoas que adoecem por TB não são notificados. Para exemplificar esse cenário, a palestrante citou a África e países da Ásia como Índia, China, Bangladesh e Paquistão - todos com alta carga da doença e onde se sabe que ocorrem mortes sem um diagnóstico preciso. “Quando se fala na resistência, a situação é mais grave, uma vez que apenas uma em cada cinco pessoas com tuberculose multirresistente (TB-MR) está sendo hoje, no mundo, notificada e tratada adequadamente”, alertou.
 
De acordo com a médica pneumologista, os países do grupo dos Brics, grupo do qual o Brasil faz parte, concentram 60% da incidência de tuberculose no mundo. A China tem 1 milhão de casos por ano; a Índia, 2,2 milhões, com uma alta taxa de resistência aos principais fármacos; e os países da antiga União Soviética, por sua vez, concentram as mais altas taxas de resistência primária, decorrente de maus tratamentos prévios.
 
“Hoje, a nossa preocupação no Brasil é estruturar centros de referência qualificados para assistência de casos complexos de tuberculose (casos de difícil manejo). No Rio de Janeiro há o serviço do Centro de Referência Prof. Hélio Fraga e do INI, na Fiocruz, além do Hospital Federal dos Servidores (HSE) preparados para atender essa situação. Os casos de difícil manejo, não são somente os multirresistentes, são pacientes co-infectados por HIV, ou seja, aqueles que apresentam interação farmacológica grave, portadores de hepatite crônica, hepatite C e B, portadores de doenças auto-imunes e outras micobacterioses”.
 
Em relação ao diagnóstico, após mais de cem anos com a baciloscopia e a cultura, hoje se pode pensar em uma mudança de paradigma, com a implementação do método molecular rápido de diagnóstico para tuberculose, denominado Gene Xpert, afirmou Margareth. Esse método possibilita identificar o patógeno e o sinal genético de resistencia à rifampicina, usado no tratamento. “É um método revolucionário porque dispensa a complexidade de ambientes de biossegurança de laboratórios de bacteriologia, permitindo um diagnóstico em cerca de três horas”.
 
Quanto aos avanços na terapêutica da tuberculose, Dalcolmo deu ênfase às linhas atuais de pesquisa, que buscam a melhor associação medicamentosa, com esquemas mais curtos, de administração mais simples e menos tóxicos. O panorama atual revela seis novos fármacos, três novas classes medicamentosas diferentes e quatro fármacos repropostos (uma molécula para a qual se encontra uma nova via farmacológica), em estudos clínicos de fases 2 e 3.