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Publicado em: 01/03/2016

Opas e laboratórios da Relda definem diretrizes para identificar e confirmar o vírus Zika

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Opas/OMS

A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde (Opas/OMS) e a Rede de Laboratórios de Arbovírus (Relda) chegaram a um acordo sobre novas diretrizes para melhorar a confirmação laboratorial de casos suspeitos de Zika, conforme os testes mais precisos são desenvolvidos.

"Com a dengue e chikungunya circulando na região, diagnosticar a zika é um grande desafio", disse Maria Guadalupe Guzman, presidente da Relda e chefe do Departamento de Virologia do Instituto de Medicina Tropical Pedro Kouri, de Cuba, durante uma reunião organizada pela Opas/OMS na semana passada em San Juan, Puerto Rico. Guzman disse que o novo algoritmo de detecção de laboratório do zika contribui para um diagnóstico mais preciso e vigilância mais eficiente.

Para os serviços de saúde, relatar casos de zika é difícil, porque até 80% das pessoas infectadas não apresentam sintomas e aqueles que ocorrem são geralmente leves, a ponto de não procurar atendimento médico. Febre e exantema, dor muscular ou dor nas articulações e conjuntivite são os sintomas mais comuns, que são muito semelhantes aos da dengue e ao vírus Chikungunya, também transmitidos pelo mosquito Aedes infectado.

Os casos suspeitos que são detectados, só são confirmados através de exames de sangue, mas o vírus geralmente circula no sangue de uma pessoa infectada não mais que cinco dias. Depois do exame de sangue, os anticorpos podem ser detectados por outro teste, mas, para Zika, os anticorpos são muito semelhantes aos da dengue e da febre amarela, de modo que a evidência disponível pode produzir resultados positivos falsos ou cruzados.

Jairo Mendez, assessor regional de doenças virais da Opas/OMS, destacou que "o melhor momento para a análise do zika é durante os primeiros cinco dias do início dos sintomas. Quando testado pela PCR, pode detectar material genético (ARN) do vírus". Nesse período e com esta prova, os resultados serão mais precisos do que aqueles que se realizam em uma etapa posterior, cujos resultados, com as evidências atuais, serão presumidos.

As novas orientações consistem em um algoritmo de laboratório baseado em uma plataforma de vigilância laboratorial da dengue já estabelecida em toda a região. O algoritmo "serve para excluir ou confirmar a dengue, Chikungunya e Zika e pode ser ajustado as condições de cada país", disse Mendez.

O diagnóstico do vírus Zika é importante, especialmente para o cuidado e acompanhamento das gestantes por causa da possível ligação entre o vírus e o nascimento de bebês com microcefalia e outras malformações congênitas. Além disso, a sua possível ligação com o aumento de casos de síndromes neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, aparentemente associadas.

No entanto, o objetivo das novas diretrizes da Opas também é epidemiológica, ou seja, buscar conhecer o comportamento do vírus para recomendar ações de saúde pública e combater doenças.

A OMS está trabalhando para acelerar a disponibilidade de novas evidências confiáveis e espera-se que novos testes de diagnóstico, com níveis de qualidade, segurança e rendimento aceitáveis, estejam disponíveis em curto prazo.

Essas ações são parte da resposta que a Opas e a OMS estão dando desde que a OMS declarou a emergência de saúde pública de importância internacional pela suspeita de uma relação casual entre a microcefalia e outros transtornos neurológicos e a infecção pelo vírus da Zika. Desde que o Brasil reportou casos de zika em 2015, o vírus se espalhou para 31 países e territórios das Américas.

Diagnóstico clínico da zika, dengue e chikungunya

A Opas/OMS também está trabalhando - junto com profissionais da região - no desenvolvimento de uma ferramenta que facilitará aos médicos, principalmente os de nível de atenção primária, o diagnóstico diferencial da zika, dengue e chikungunya. A diferenciação dessas doenças, enquanto os testes de laboratório não estão disponíveis, pode salvar vidas, principalmente das pessoas que contraem dengue, a mais mortal entre elas.

"Necessitamos que o pessoal de saúde siga suspeitando da dengue porque a doença pode matar uma pessoa que não recebe tratamento desde o primeiro momento", afirmou José Luis San Martín, assessor regional de dengue da Opas/OMS. "Precisaremos de clínicos bem compreendidos nas formas clínicas que estão apresentando dengue, chikungunya e zika para orientar o diagnóstico e tratamento dos pacientes da maneira mais eficiente possível", disse ele.

Controle de qualidade externo dos laboratórios

Durante a reunião em Porto Rico, os 22 laboratórios que integram a Relda, também concordaram em participar de uma rede global conduzida pela OMS, para controlar externamente o seu desempenho, o qual garantirá a qualidade do diagnóstico e promoverá a melhoria contínua do desempenho técnico.

Os laboratórios que integram a Relda decidiram também ampliar sua órbita de trabalho a outros arbovírus além da dengue. Dessa forma, o que era conhecido desde 2008 como a Rede de Laboratórios de Dengue, passou a ser Rede de Laboratórios de Diagnóstico de Arbovírus, preservando a sigla Relda e expandindo a sua área de atuação.