‘Saúde em todas as políticas’ é tema de evento realizado no Paraguai, com apoio da Opas
O coordenador do CEE-Fiocruz, Rômulo Paes de Sousa, participou do Primeiro Congresso Nacional de Saúde Pública Saúde em Todas as Políticas, realizado nos dias 29 e 30 de agosto de 2025, pela Faculdade de Medicina da Universidade Nacional de Assunção, com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O programa incluiu uma visita ao Instituto Nacional de Saúde (INS), para troca de experiências e análise dos desafios atuais em pesquisa e formação de profissionais de saúde no Paraguai. Rômulo abordou o tema Saúde em Todas as Políticas: Utopia ou Necessidade Política?. Ele foi palestrante ao lado do infectologista Marcos Boulos que discorreu sobre Saúde Única.
Epidemiologista pela London School of Hygiene and Tropical Medicine e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Rômulo enfatizou que a saúde em todas as políticas é “necessidade política fundamental” para se alcançar um impacto equitativo na saúde da população. Conforme pontuou, essa abordagem requer integração transversal e uma visão holística da saúde, reconhecendo-se seu impacto em fatores sociais, econômicos e ambientais que vão muito além do setor Saúde.
Ele também ressaltou a necessidade de se atuar em todos os níveis de governo – local, regional e nacional – para articular efetivamente um compromisso multissetorial que alinhe as políticas públicas com o bem-estar da população. Por fim, observou, ainda, que essa estratégia abrangente é essencial para a construção de sistemas de saúde mais resilientes, sustentáveis e verdadeiramente centrados nas pessoas a longo prazo.
Colaboração estratégica
Em sua visita ao Instituto Nacional de Saúde, Rômulo Paes de Sousa foi recebido pela diretora, Cristina Caballero, e, durante o encontro, foi reforçada a colaboração estratégica entre a Fiocruz e o INS, visando ao fortalecimento da saúde pública no Paraguai, com ênfase especial na cooperação técnica para pesquisa e formação de profissionais de saúde. O esforço conjunto, apoiado pela Opas, tem como objetivo melhorar a qualidade de vida da população paraguaia e promover “avanços significativos em saúde pública”.
Saúde Única como perspectiva interdisciplinar
Marcos Boulos, professor sênior da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e consultor técnico do Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária, por sua vez, proferiu palestra sobre a abordagem da Saúde Única. Ele explicou à plateia composta por estudantes, profissionais e pesquisadores, que se trata de abordagem holística voltada às ameaças à saúde na interface entre humanos, animais e meio ambiente. Ele destacou a importância dessa perspectiva interdisciplinar no enfrentamento de doenças e zoonoses emergentes, fortalecendo sistemas de saúde resilientes e sustentáveis para a proteção coletiva da saúde pública.
“A disseminação de patógenos potencialmente pandêmicos é resultado da pecuária, da caça e do comércio de animais selvagens, das mudanças no uso da terra – particularmente a destruição de florestas tropicais –, da expansão de terras agrícolas – especialmente perto de assentamentos humanos – e da urbanização rápida e desordenada. As mudanças climáticas também estão reduzindo habitats e deslocando animais terrestres e marinhos para novos locais, criando oportunidades para que patógenos alcancem novos hospedeiros”, explicou Boulos.
O infectologista lembrou que, ao longo da história, a humanidade enfrentou repetidamente pandemias e epidemias, eventos que afetaram o tecido social, econômico e demográfico mundial, citando a peste negra (1346-1356) – matou 1/3 dos europeus; a cólera, a partir de 1817; tuberculose, que resultou em mais de 1 bilhão de mortes entre 1850 e 1950; varíola, causadora de 300 a 500 milhões de mortes no século XX; malária, que mata 3 milhões de pessoas por ano desde 1980; Aids, que já computa 22 milhões de mortes desde 1981; gripe Espanhola (1918-1919), com 1/4 da população mundial do período afetada; e Covid-19, “a pandemia mais impactante deste século”.
Por fim, que, para enfrentar os desafios da saúde com uma abordagem de Saúde Única, é crucial implementar ações-chave, como a redução de riscos e controle de zoonoses por meio da vigilância epidemiológica, virológica e genômica, apoiada por diagnósticos laboratoriais. Além disso, defendeu, é necessário promover a coordenação intersetorial, fortalecer a segurança alimentar, reduzir as infecções hospitalares e integrar o meio ambiente como pilar fundamental em todas as políticas, reconhecendo o vínculo indissociável entre a saúde humana, animal e ambiental.
A série de conferências e reuniões faz parte de um esforço conjunto entre a Opas e instituições nacionais e acadêmicas para consolidar um modelo de saúde pública abrangente, participativo e centrado nas pessoas no Paraguai.