Barreiras que impedem acesso à saúde para um terço da população das Américas devem ser superadas, afirma OPAS
Na quarta-feira, dia 4 de abril, num evento especial pelo Dia Mundial da Saúde, realizado em Washington, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, e a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, pediram por soluções coletivas que permitam a todas as pessoas, em todos os lugares, acessarem os serviços de saúde dos quais necessitam.
Na região das Américas, um terço da população enfrenta obstáculos para acessar a saúde. "A saúde é um direito e, por isso, devemos superar as barreiras que impedem o acesso ao atendimento", afirmou Etienne, pedindo a eliminação do pagamento direto que muitas pessoas precisam fazer no ponto de entrada dos serviços de saúde. Esse pagamento, segundo ela, "constitui a principal barreira e leva famílias à pobreza".
Outras barreiras são as geográficas, institucionais e o estima e a discriminação nos serviços de saúde, assim como as inequidades. “Não é suficiente ter hospitais e centros de saúde. Essas instituições devem contar com a combinação adequada de recursos humanos, infraestrutura, equipes, medicamentos e outras tecnologias de saúde para evitar longos prazos de espera e oferecer uma atenção de qualidade”, afirmou Etienne.
A saúde universal, tema do Dia Mundial da Saúde, implica que todas as pessoas e comunidades tenham acesso, sem discriminação alguma, a serviços de saúde de qualidade sem ter que se expor a dificuldades financeiras. Sob o lema “Saúde universal: para todos e todas, em todos os lugares”, a campanha regional para as Américas, impulsionada pela OPAS, busca gerar consciência e encontrar soluções que ajudem a alcançar a saúde universal para todas as pessoas em 2030.
“Precisamos de um movimento regional massivo e escutar todas as vozes” para avançar rumo à saúde universal, pontuou Etienne. Em 2017, a OPAS lançou no Equador um fórum com a participação de diversos setores e criou a Comissão de Alto Nível “Saúde universal no século XXI: 40 anos de Alma-Ata”, com Michelle Bachelet ainda como presidenta.
Para que exista saúde universal, para todos e em todos os lugares, “temos que construir consensos nacionais, pois os desafios são de tal magnitude que requerem o compromisso e o esforço de todos”, alertou Bachelet durante a conferência organizada pela OPAS em Washington, EUA, para celebrar o Dia Mundial.
Há 40 anos da Declaração de Alma-Ata, que impulsionou os valores do direito à saúde, equidade e solidariedade, Bachelet reconheceu a atenção primária como um foco estratégico no desenvolvimento dos sistemas e serviços de saúde e que as Américas seguem como uma das regiões mais desiguais do mundo.
Bachelet considerou que houve avanços importantes desde Alma-Ata, mas que ainda persistem profundas brechas entre os países e dentro dos países. “Ao mesmo tempo em que existem centros de saúde com uma qualidade que não podíamos imaginar no passado, há mulheres e crianças morrendo por causas totalmente evitáveis”, lamentou. Para a médica chilena, “a desigualdade é um grande inimigo na América Latina e no Caribe”.
A ex-presidente disse que a estratégia de saúde universal da OPAS, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a agenda sustentável para as Américas infundem uma nova vida ao caminho traçado em Alma-Ata. Sustentou também que o caminho inclui uma ênfase maior para a promoção de saúde e prevenção de doenças, reduzir a segmentação e a fragmentação dos serviços de saíde, resguardar as condições de trabalho dos profissionais de saúde, incluir novas tecnologias e inovação e melhorar a regulação do Estado para a construção de sistemas de financiamento que promovam a solidariedade.
“Para isso, não há milagres nem atalhos, o que há é um longo caminho de trabalho coletivo que leva a mais justiça para todas e todos”, concluiu Bachelet.