Como parte do projeto “Recursos humanos em saúde no contexto da Covid-19: fortalecer as capacidades para melhorar a resposta dos sistemas de saúde”, EPSJV sedia oficina sobre perfil de usuários do Campus Virtual de Saúde Pública da Opas/OMS
A Escola Politécnica e Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/) sediou, nos dias 3 e 4 de junho, uma Oficina de Trabalho para apresentação dos resultados da primeira etapa da investigação do projeto “Recursos humanos em saúde no contexto da Covid-19: fortalecer as capacidades para melhorar a resposta dos sistemas de saúde”, com foco no desenvolvimento da capacidade de profissionais de saúde em zonas remotas e desatendidas.
A Oficina contou com as participações de Maria Isabel Duré, Ana Paula Cavalcanti, Monica Durães e Fernando Santoro, representando a Opas/OMS; Mario Dal Poz e Dercio Santiago, do Observatório de Recursos Humanos em Saúde do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ); Juan Pereyra, do Ministério da Saúde da Argentina; Sebastian Tobar, do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) e Gabriel Muntaabski, pesquisador do projeto e coordenador do Programa Nacional de Enfermagem (Pronafe) da Argentina. Pela EPSJV, participaram a diretora Anamaria Corbo; a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Monica Vieira; o coordenador de Cooperação Internacional, Carlos Batistella; e a coordenadora do Observatório dos Técnicos em Saúde, Márcia Valéria Morosini; entre outros trabalhadores.
Maria Isabel Duré afirmou que o Campus virtual de Saúde Pública precisa ser interpretado não apenas como uma plataforma de ensino, mas de relacionamento e cooperação. Ela saudou a pesquisa como uma possibilidade de conhecer o que está ocorrendo com os técnicos de saúde a partir de seus interesses de acesso ao campus virtual, o que colaboraria para a criação de itinerários formativos naquele ambiente de ensino. “Esse debate permite repensarmos a educação dos técnicos. Escolhemos fazer esse debate junto à EPSJV não apenas por ser um centro colaborador [da Opas/OMS], mas porque possuem um debate academicamente qualificado, com rigor científico”, ressaltou.
De acordo com Isabel Duré, a governança do campus virtual foi fortalecida a partir de uma demanda do atual diretor da Opas, o brasileiro Jarbas Barbosa, e seu pedido para a criação de itinerários formativos para pequenos trajetos de formação, que estejam sob os padrões de qualidade da plataforma WHO Academy (Academia da OMS), da qual o Campus Virtual é uma plataforma regional.
Anamaria Corbo citou a importância da produção de dados sobre os técnicos em saúde, lembrando do trabalho feito no Brasil pelos observatórios da EPSJV e do IMS/UERJ, ressaltando que a conceituação de quem são esses técnicos varia de país a país, com impactos tanto nas relações de trabalho quanto na oferta de ensino. “Agradecemos o convite para colaborar e a predisposição da Opas em ouvir nossas contribuições, dada a concepção da Escola”, afirmou. De acordo com ela, o uso da plataforma pelos matriculados tem revelado uma ação pragmática dos alunos, que ali buscam conteúdos necessários para os desafios epidemiológicos presentes na conjuntura local ou conteúdos orientados pelas autoridades sanitárias de seus respectivos países. “O caso atual do Rio Grande do Sul serve de exemplo, a partir das notificações de óbito por leptospirose, iniciou-se um processo de disponibilização de cursos sobre o tema para profissionais de saúde em algumas plataformas”, destacou a diretora da EPSJV.
Monica Vieira destacou que a pergunta “Quem são os técnicos de saúde?” ocupa espaço nas atividades da EPSJV há cerca de 20 anos, sendo um questionamento permanente, que acompanha as alterações do mundo do trabalho. “Hoje esta pergunta é ainda mais pertinente, dados os impactos da precarização desses profissionais”, observou.
Nos dois dias de trabalho, os participantes concluíram um ciclo do projeto, que já havia contado com o webinário “O Campus Virtual de Saúde e a formação de técnicos em saúde”, realizado em 16 de abril (assista aqui) , e a oficina de trabalho virtual “Análise e discussão de pontos críticos observados pela equipe de pesquisa na categorização de ocupações técnicas”, ocorrido em 17 de maio (assista aqui).
Na oficina, foi apresentada aos participantes a plataforma PowerBI com a consolidação dos dados de cerca de 486 mil matrículas feitas nos 20 cursos com maior adesão de alunos no Campus Virtual no período pós-pandemia. A partir desse recorte, sistematizado pelo pesquisador Fernando Santoro, os participantes da Oficina discutiram sobre uma série de cruzamentos de informações, ainda não disponíveis para o público geral. Os usuários do Campus Virtual são, majoritariamente, do sexo feminino (79%) com idade entre 21 e 40 anos (59,3%). Dos usuários, sete profissões representam 90% dos matriculados, com a área de Enfermagem representando sozinha 78,3% do total.
Apenas cinco cursos concentram 41,8% das matrículas na plataforma – Diagnóstico e manejo clínico de dengue (12,9%), Higiene das mãos (9,9%), Fundamentos do cuidado paliativo (7,1%), Implementação do pacote HEARTS na Atenção Primária (6,4%) e Medição Automática Precisa da Pressão Arterial (5,6%). Ao observar os 10 cursos com mais inscrições, chega-se a 56,7% das matrículas; e os 20 que fazem parte do recorte 69,2%. Por fim, dos 303 cursos ofertados no Campus Virtual, 63 concentram 90,2% das matrículas, restando a 240 dos cursos menos de 10% das matriculas efetuadas.
Os participantes da Oficina discutiram sobre algumas hipóteses para essa concentração, com os presentes apresentando sugestões do que seriam as “boas práticas” para identificar o sucesso de um curso, sendo importante ressaltar que, durante o evento, essa medida foi avaliada sob o critério do número de matrículas e não de seu resultado efetivo na alteração das condições locais de saúde nos territórios, de acordo com o pesquisador Gabriel Muntaabski, que ressaltou a inexistência de dados objetivos que permitam fazer essa avaliação no momento.
Ainda dentro do recorte de profissionais técnicos, os usuários do Campus Virtual podem ser classificados em 23 ocupações – além da autodescrição permitida pelo sistema de registro de usuários. A pesquisa identificou 81% de registros feitos nas ocupações oferecidas pelo sistema e, embora seja reduzido em termos percentuais, os 19% de autodescrição geraram 1.176 diferentes denominações de atuação profissional. Sobre isso, Mario Dal Poz lembrou que são muitas as legislações nacionais que impactam a forma com que os profissionais se autointitulam na plataforma. Essa realidade coloca o desafio, sobre o qual o projeto vai se dedicar, de agrupar essas descrições, para fins de comparabilidade – notadamente as que permitam estabelecer paralelos nas contas nacionais. “É fundamental discutir as profissões para elaborar propostas para os recursos humanos em Saúde”, complementou Dal Poz.
Carlos Batistella destacou o esforço por esse agrupamento e aproximação de critérios, que colaborará para a Opas/OMS e seu esforço de identificar formas mais fidedignas de sistematizar informações de qualidade sobre a força de trabalho na região das Américas. “Isso poderá gerar um salto qualitativo não apenas para os países-membros, mas também no estabelecimento das políticas de cooperação”, lembrou.
A territorialidade, o georreferenciamento e os locais de trabalho dos alunos matriculados na plataforma foram outros pontos debatidos, a partir da observação de que 90% dos inscritos são oriundos de apenas seis países, com a dupla México e Colômbia representando concentração de 70% deles. Ao mesmo tempo, hospitais e centros de saúde são apontados como locais de trabalho de 68,4% dos inscritos, embora 25,6% dos mesmos não tenham informado seu local de atuação.
Márcia Valéria destacou que o Observatório dos Técnicos em Saúde, coordenado pela EPSJV, é um espaço de pesquisa dessas diferentes interpretações de quem são os técnicos de saúde, lembrando que o Observatório publicou, em maio de 2024, a nota conceitual “Concepção Ampliada sobre as(os) Técnicas(os) em Saúde” e outra, metodológica , que refletem sua compreensão ampliada desses trabalhadores, congregando informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNCT), do Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia (CNCST), da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) e de outras normativas e legislações específicas de cada uma das profissões.
A Oficina foi encerrada com os pesquisadores presentes sistematizando as informações já obtidas e as questões que ainda precisam ser respondidas, como, por exemplo a motivação dos usuários para se matricularem nos cursos. Quatro dimensões de análise foram estabelecidas como os próximos passos do levantamento: a política institucional dos países da região e sua relação com o Campus Virtual, a dimensão epidemiológica, o campo de trabalho dos técnicos que se matriculam e a dimensão didático-pedagógica dos cursos.