Você está aqui

Publicado em: 21/01/2014

Reunião Geral da RETS: membros avaliam trabalho realizado e assumem compromissos para fortalecer ações futuras

imprimirimprimir 
  • Facebook
Elisandra Galvão e Raphael Peixoto, com colaboração de Talita Rodrigues (EPSJV/Fiocruz)

“Este é o momento em que nos reunimos para planejar e definir o encaminhamento que daremos à Rede Internacional de Educação de Técnicos em Saúde (RETS), e às Redes de Escolas Técnicas da CPLP e da Unasul nos próximos anos, de forma que elas possam contribuir efetivamente para o aprimoramento dos sistemas nacionais de saúde. É o momento de assumirmos o compromisso de fazer isso da melhor maneira e conforme a especificidade de cada país membro”. Foi com essas palavras que o diretor da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Paulo César de Castro Ribeiro, abriu a 3ª Reunião Geral da RETS, realizada nos dias 7 e 8 de novembro, em Recife (Pernambuco-Brasil), juntamente com a 2ª Reunião da RETS-CPLP e da RETS-Unasul.

mesa de aberturaApós a mensagem da Direção da EPSJV/Fiocruz, foi a vez dos demais membros da mesa de abertura transmitirem suas mensagens de boas-vindas aos participantes do encontro. Em poucas palavras e de forma bastante calorosa o coordenador de Cooperação Internacional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Manuel Clarote Lapão; o coordenador alterno da Argentina na União de Nações Sul-Americanas (Unasul), Sebastián Tobar; a assessora regional de Enfermagem e Técnicos de Saúde da Opas/OMS, Silvia Cassiani; o coordenador técnico do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (Isags), Henry Jouval; o coordenador geral de Ações Técnicas em Educação na Saúde do Ministério da Saúde do Brasil, Aldiney Doreto; e o coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Cris/Fiocruz), Paulo Buss, destacaram, entre outras coisas, a importância técnica e política da reunião, a necessidade de fortalecer a iniciativa e o papel dos presentes nas discussões posteriores, trazendo uma visão singular dos problemas de cada instituição e país e um olhar plural para as questões que afetam os técnicos em saúde e a Rede.

O evento, cujo tema foi ‘A Rede como espaço de produção de conhecimento sobre a educação e o trabalho dos técnicos em saúde’, aconteceu como atividade prévia ao 3º Fórum Global de Recursos Humanos em Saúde, e reuniu cerca de 80 representantes de países e instituições que integram as redes.

Na pauta oficial do encontro estavam a discussão e aprovação do plano de trabalho e do regulamento das três redes e a eleição da futura sede da Secretaria Executiva da RETS e da RETS-Unasul, além da elaboração conjunta do ‘Documento de Recife sobre a Formação e o Trabalho dos Técnicos em Saúde’, a ser divulgado entre os participantes do Fórum Global. Na pauta afetiva, o estreitamento dos laços entre os membros e o fortalecimento dos vínculos que tornam possível o trabalho da RETS e de suas sub-redes.

Palestra inicial discute o trabalho dos técnicos em saúde no contexto global

Paulo BussA primeira atividade programada para a reunião teve por objetivo contextualizar as discussões a serem realizadas durante o evento num cenário mais amplo. A tarefa coube ao ex-presidente da Fiocruz Paulo Buss, um dos grandes incentivadores da RETS e um dos responsáveis pela criação da RETS-Unasul e da RETS-CPLP, com a palestra ‘Saúde na Agenda Global do Desenvolvimento Pós-2015: o papel do trabalhador técnico em saúde e das redes estruturantes’.

Em sua apresentação, seguida de debate, Buss mostrou de que forma a atual situação social, política e econômica interfere na agenda do desenvolvimento global; ressaltou a questão da determinação social da saúde; comparou os aspectos referentes à saúde no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), que se inserem na Agenda pós-2015; e, enunciou alguns dos principais desafios globais, nacionais e locais, incluindo aspectos da formação e do trabalho em saúde.

Sobre a situação mundial, ele mencionou algumas das principais consequências e transformações resultantes da crise econômica instalada em 2008, que teve início nos EUA, e que repercutiu em quase todos os países, Segundo ele, por conta de uma “ditadura do consumismo, encabeçada pela grande mídia”, houve uma amplificação da pobreza e do desemprego, além de uma crise alimentar, energética e ética. “Observamos a amplificação da pobreza e do desemprego entre os jovens no mundo, além do trabalho informal precário, pior entre os de menor renda. Apenas na América Latina e no Caribe, são 127 milhões e 47% dos trabalhadores urbanos nessa situação”, assinalou o palestrante, manifestando sua preocupação com o fato de haver no mundo, segundo dados de 2011 das Nações Unidas, cerca de 925 milhões de pessoas com fome crônica, 885 milhões sem acesso água potável e 2.6 bilhões sem acesso a saneamento básico. “Nesse cenário há uma tripla carga de doenças e globalização de formas insalubres de vida, muitas vezes condicionadas por interesses comerciais”. Buss chamou atenção para o fato de a expectativa de vida na África Subsaariana ser de apenas 53 anos, ou seja, 27 anos a menos do que em países de alta renda. “É inadmissível que seres de uma mesma espécie tenham uma expectativa de vida tão diferente, apenas por questões de investimentos de capital”, lamentou.

Reafirmando a determinação social da saúde, que resulta não apenas de fatores biológicos, mas de questões relativas à renda, educação, emprego, desenvolvimento infantil, cultura, gênero e condições ambientais, entre outras, ele garantiu que sem reduções significativas das desigualdades e iniquidades econômicas e sociais, será impossível diminuir as iniquidades sanitárias e melhorar a saúde. “Saúde e sistemas saudáveis de saúde exigem transformações nas políticas econômicas, sociais e ambientais globais”, defendeu.

Sobre o papel das escolas técnicas de saúde (ETS) no cenário global, ele foi conclusivo. “Elas devem gerar evidências e traduzi-las em políticas; fazer a defesa da saúde e da ciência para a transformação de políticas sociais e de saúde em prol da equidade social e sanitária, nas esferas nacionais e globais; formar recursos humanos capazes de intervir técnica e politicamente nos processos; defender sistemas de saúde universais, equitativos, integrais e de qualidade; fazer monitoramento político-técnico; realizar trabalhos em redes nacionais, regionais e globais para ampliar as capacidades políticas e técnicas”, enumerou, destacando ainda a importância da formação de redes nacionais, regionais e globais para a potencialização dos resultados.

Elisandra GalvãoPara finalizar a programação da manhã do dia 7, foi feito um breve resumo do trabalho desenvolvido pela Secretaria Executiva da Rede nos últimos anos. Coube à jornalista Elisandra Galvão apresentar o novo website da RETS, cujo lançamento simbólico ocorreu durante o evento e que estará on-line em meados de janeiro. “O novo site, construído a partir de avaliações feitas pelos participantes da 2ª Reunião Geral da RETS, em 2009, apresenta uma interface mais intuitiva, que favorece a localização de notícias e documentos desejados e a interação entre os usuários”, explicou. Ela também ressaltou o uso crescente que a RETS vem fazendo das redes sociais para a disseminação de temas de interesse e informações relevantes sobre a formação e o trabalho dos técnicos em saúde.

Como fortalecer as Redes?

Coordenada por Ana Beatriz de Noronha (EPSJV/Fiocruz), a mesa-redonda 'O trabalho em rede: o desafio da institucionalização e a definição de compromissos' reuniu Silvia Cassiani (OPS-WDC), Manuel Lapão (CPLP) e Isabel Duré (Ministério da Saúde-Argentina) para discutir estratégias que permitam a continuidade do trabalho das três redes: a RETS, uma rede de conhecimentos, criada em 1996 e reativada em 2005, por iniciativa da Opas/OMS; e suas duas sub-redes – a RETS-CPLP e a RETS-Unasul – criadas em 2009, como redes de instituições estruturantes da saúde.  

Como impedir o esvaziamento da RETS e ampliar a produção e disseminação de saberes que possam contribuir para o fortalecimento da educação dos técnicos em saúde nos países?  De que forma a Opas/OMS pode, reassumindo seu papel original, contribuir efetivamente para isso? Como fazer para que tanto a RETS-CPLP quanto a RETS-Unasul, cuja criação foi proposta e aprovada pelas autoridades responsáveis pelos respectivos blocos, consigam superar as dificuldades de institucionalização nos países a fim de cumprir sua missão de contribuir para a criação de sistemas de saúde mais adequados às necessidades das diferentes populações? Essas foram algumas das questões que nortearam as falas dos integrantes da mesa.

O diretor de Cooperação da CPLP, Manuel Lapão fez uma breve apresentação do Plano Indicativo de Cooperação (PIC) 2013-2016, que destina mais de seis milhões de euros para diversos projetos e confirma, na prática, a cooperação em diversos domínios como um dos objetivos estatutários da CPLP. Lapão destacou o trabalho desenvolvido pela RETS no âmbito do Plano Estratégico de Cooperação em Saúde (Pecs) e apresentou um vídeo sobre a compra de equipamentos multimídia – televisores, notebooks, projetores e telas – destinados a 33 instituições de formação de técnicos em saúde dos Palop que integram a Rede. Ele ressaltou o importante papel que a sociedade civil tem de influenciar as políticas públicas dos Estados. Ele lembrou que a descontinuidade geográfica enfrentada pelos países da CPLP, localizados em quatro regiões geográficas distintas, representa um desafio para a Comunidade e também para a Rede. “Creio que o aprimoramento dos mecanismos de comunicação é fundamental para o estabelecimento do diálogo e o fortalecimento da iniciativa”, afirmou.

Isabel DuréEm sua palestra, a diretora Nacional de Capital Humano e Saúde Ocupacional do Ministério da Saúde da Argentina, Isabel Duré, procurou refletir sobre a RETS e sobre a RETS-Unasul, tomando por base alguns importantes conceitos de rede desenvolvidos pelo também argentino Mario Rovere. Nesse sentido, ela procurou dar clareza ao papel desempenhado por cada um dos atores envolvidos no processo e à própria função de gestão da rede. Sobre as dificuldades enfrentadas, ela mostrou que algumas são inerentes à própria forma de organização em rede, mas que outras podem ser superadas com o trabalho conjunto: “Acredito que não haja uma solução mágica, mas penso que para superar alguns dos problemas com os quais nos deparamos, precisamos voltar às origens e centrar esforços na produção e no acúmulo de conhecimento na área da formação técnica em saúde; mapear o que cada associado pode oferecer, ou seja, o capital constituído e transferível de cada instituição membro; gerar e cumprir acordos de trabalhos; e buscar fontes de financiamento que possam viabilizar as ações propostas”.

Silvia CassianiSílvia Cassiani, assessora Regional de Enfermagem e Técnicos de Saúde da Opas/OMS, reafirmou o papel de articulação que as representações nacionais podem exercer nos países com relação às redes. Utilizando como exemplo as redes de enfermagens das Américas, Sílvia enfatizou a necessidade de construção de redes nacionais de educação de técnicos, a fim de ampliar e capilarizar as discussões e ações, fortalecendo a sensação de pertencimento e, consequentemente, o trabalho em vários níveis. “Se temos 19 países, podemos ter 19 redes formadas”, ressaltou. Segundo ela, os problemas enfrentados pela RETS são os mesmos enfrentados por outras redes e que, ainda que tenhamos o objetivo de melhorar nossa atuação, temos que reconhecer que a RETS atingiu uma maturidade que as outras redes ainda precisam alcançar.

Sobre a questão do esvaziamento da rede, ela reforçou a necessidade de divulgação do trabalho e da proposta. “Quem está na RETS precisa saber o que é uma rede e quais as vantagens e desvantagens de se pertencer à rede e de se envolver com o trabalho realizado”, sugeriu. Para ela, dentre as vantagens e fortalezas das redes, é possível destacar a possibilidade de aprendizagem mútua entre os membros e a formação de um espaço privilegiado para o surgimento de novas ideias e soluções inovadoras para os problemas existentes.

Reuniões específicas discutem regimento e planos de trabalho das sub-redes

A manhã do dia 8 foi reservada para as discussões específicas da RETS-CPLP e da RETS-Unasul. O intuito de cada uma das reuniões era discutir as propostas de regulamento e de plano de trabalho para os próximos dois anos apresentadas pela Secretaria Executiva, bem como eleger a instituição encarregada da gestão das redes nesse período. Todos os documentos aprovados nas reuniões estão disponíveis no website da RETS.

Marcela Pronko e Sebastián TobarNa reunião da RETS-Unasul, coordenada pela vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV/Fiocruz, uma proposta de regulamento foi fechada e será enviada para a PPT da Unasul-Saúde para aprovação. O Plano de Trabalho, pensado de forma integrada com o compromisso assumido pela Unasul durante o 3º Fórum Global de Recursos Humanos em Saúde, foi aprovado praticamente sem ressalvas. “A ideia foi construir um Plano de Trabalho mais realista e menos ambicioso que pudesse ser realizado de forma integral, com a participação efetiva de todos os países e que servisse para gerar informações cruciais para futuras ações da Rede. Nesse sentido, nós propusemos a realização, em parceria com o Isags, de um estudo em nível de governo que nos permita traçar um panorama geral da formação e do trabalho dos técnicos em saúde nos 12 países da região, identificando o tipo de formação existente, o marco legal dessa formação, as profissões regularizadas e outros aspectos legais e organizacionais relevantes”, explica Ana Beatriz de Noronha, ressaltando a importância do projeto: “Hoje, há um quadro muito distinto de formação técnica nos países e um grande desconhecimento do que ocorre em cada um. Isso acaba dificultando a realização de algumas ações de cooperação que poderiam ser plenamente realizadas a despeito das diferenças existentes. Além disso, como o levantamento será feito no âmbito dos governos, nossa expectativa é que isso possa fortalecer o processo de institucionalização da RETS-Unasul nos países”, disse.

RETS-CPLPNa reunião da CPLP, coordenada por Grácia Gondim, então coordenadora de Cooperação Internacional da EPSJV/Fiocruz, a discussão acabou restrita ao regulamento da rede, ficando a discussão do Plano de Trabalho adiada para o primeiro semestre de 2014, numa reunião a ser realizada em Portugal. De acordo com o texto do regulamento aprovado na reunião e que será apresentado ao Grupo Técnico de Saúde da CPLP, as quatro funções da RETS-CPLP são:

1. Monitorar e sistematizar, permanentemente, as informações relacionadas com a área de formação dos trabalhadores técnicos da saúde e sua interface com a organização do trabalho em saúde, facilitando a identificação de tendências e necessidades educacionais, com a finalidade de apoiar a definição de políticas públicas para a área;

2. Promover a cooperação técnico-científica e pedagógica entre as instituições membros para a elaboração de propostas educacionais, projetos de currículo, cursos, material didático, metodologias e formação docente em áreas consideradas prioritárias, buscando alternativas e experiências que possam ser compartilhadas;

3. Desenvolver mecanismos que facilitem a produção, a divulgação e a sistematização de informação e a comunicação sobre a área de educação de técnicos em saúde entre os integrantes da Rede;

4. Fomentar o desenvolvimento de pesquisas entre as instituições membros na interface das áreas de Saúde, Educação e Trabalho, que permitam ampliar e fortalecer suas atividades de ensino e cooperação técnica.

No caso da RETS-CPLP, a coordenação técnica da Rede continua aos cuidados da EPSJV/Fiocruz, que também foi indicada para permanecer como instituição gestora da RETS-Unasul. “Essa situação nos envaidece bastante, pois representa um reconhecimento ao trabalho que temos desenvolvido. No entanto, nós também sabemos que é muito importante dividir a responsabilidade da gestão com outros membros da Rede, até mesmo para que, no futuro, eles se sintam mais dispostos a assumir a função”, disse Ana Beatriz. 

Painel prepara os participantes para as discussões finais

A tarde do dia 8 começou com o painel ‘'O trabalho em rede: reconhecendo as potencialidades e superando as dificuldades', cujo objetivo era antecipar algumas questões que seriam importantes para a plenária final da RETS. No painel, coordenado por Grácia Gondim, a consultora de Recursos Humanos da Opas/OMS para Sub-região da América Central e República Dominicana, Mónica Padilha, e Marcela Pronko trouxeram sua valiosa experiência prática de trabalho em rede e de pesquisa em rede para compartilhar com os presentes,

Em sua apresentação, Mónica enfatizou a aprendizagem no trabalho em rede e fez uma revisão crítica do trabalho que realizou e vem realizando no estabelecimento da Rede Andina e da Rede Centro Americana de Observatórios de Recursos Humanos em Saúde. Destacando algumas estratégias já consagradas, ela lembrou a importância da utilização adequada de recursos gerenciais e tecnológicos para o fortalecimento do trabalho, bem como a necessidade de formação de capacidades nessa área. “Nós podemos citar o sistema de informação integrado do Observatório de RHS (http://dev.observatoriorh.org/centro), no qual estão disponíveis informações sobre a Medição das Metas Regionais de RHS e o Campus Virtual de Saúde Pública (www.campusvirtualsp.org), que tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento do pessoal de saúde”, disse. Outro bom exemplo de capacitação para o trabalho em rede, segunda ela, seria o curso prático: ‘Gestión de Observatorios de Recursos Humanos em Salud para los países de Centroamérica y República Dominicana’, que está disponível gratuitamente na Internet (http://dev.observatoriorh.org/centro/?q=node/75) e que agrega materiais bastante úteis para o desenvolvimento de observatórios de RHS, bem como para a gestão de sítios web e uso do gerenciador de conteúdo CMS Drupal.    

Como coordenadora do chamado Projeto Mercosul (ver RETS 14), que buscou avaliar quantitativa e qualitativamente a oferta de formação de trabalhadores técnicos em saúde nos países do Cone Sul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai –, Marcela apresentou a metodologia utilizada e alguns resultados obtidos no estudo. Sua apresentação teve o objetivo de esclarecer previamente alguns aspectos relevantes sobre a proposta de plano de trabalho para a RETS para os próximos quatro anos, cujo ponto central é tentar estender a ‘Pesquisa Mercosul’, para outros países interessados, com os devidos ajustes às especificidades de cada país e com apoio das equipes que já participaram do projeto. 

Mudanças no regulamento da RETS ficam para outra ocasião

A plenária final da Reunião tinha quatro objetivos: discussão e aprovação do Plano de Trabalho para o período de 2014 a 2017; revisão do regulamento, eleição da sede da Secretaria Executiva e, por fim, a elaboração conjunta de um documento sobre a educação de técnicos em saúde a ser levado para o 3º Fórum Global de Recursos Humanos em Saúde. 

“Nossa proposta de Plano de Trabalho para a Rede seguiu a mesma lógica dos demais. Queríamos algo que pudesse ser cumprido e nos permitisse manter o foco. Nós ficamos felizes porque o documento que apresentamos, e que foi aprovado com pequenas modificações, incorpora três objetivos – (1) produzir, divulgar e promover o intercâmbio de conhecimentos na área de educação de técnicos em saúde; (2) fortalecer, ampliar e difundir a RETS; e, (3) aprimorar e ampliar as ações de comunicação no âmbito da Rede – e apenas quatro ações, dentre as quais, a realização, com apoio da Opas/OMS, de uma pesquisa multicêntrica nos países que atenderem nosso convite e que se comprometam a trabalhar em conformidade com a metodologia já aplicada pelos países do Mercosul”, comentou Ana Beatriz.

A eleição da sede da Secretaria Executiva também ocorreu sem maiores problemas. Como não houve apresentação de nenhuma candidatura, ficou decidido que a EPSJV permaneceria com essa função por mais quatro anos.

A falta de tempo levou a plenária a optar pela discussão sobre o Documento de Recife, considerada mais política, deixando as modificações do regulamento para um momento posterior. O documento aprovado, após muito debate e negociações, chama atenção das autoridades mundiais para a falta de visibilidade do trabalho e do trabalhador técnico em saúde e pede que o tema seja colocado com mais frequência nos espaços de discussão sobre a força de trabalho em saúde.

Ao final de dois dias de trabalho intenso, mas revigorante, o diretor da EPSJV, Paulo Cesar Ribeiro, encerrou a Reunião com agradecimentos e promessas. “Eu fico muito emocionado por estar aqui. Esse é um espaço de muita energia e, ao mesmo tempo em que agradeço a confiança depositada na Escola, eu também me comprometo a trabalhar ainda com mais empenho, juntamente com toda a equipe que está diretamente envolvida com as questões da Rede, para fortalecer essa iniciativa que representa uma voz isolada em defesa desses trabalhadores que, apesar de sua importância estratégica para os sistemas de saúde, são constantemente esquecidos pelas autoridades do setor”, disse.

Com a palavra, alguns membros da Rede

Para João Lobato, que é presidente da Escola de Tecnologias da Saúde de Lisboa (ESTeSL), a reunião constituiu um momento de consolidação da RETS enquanto rede temática de interesse internacional para a formação de profissionais de saúde. Ele também considera relevante o fato de os painéis terem contribuído para um ganho de consciência sobre a natureza e o conceito de rede, bem como para ampliação do sentimento de pertencimento e de integração plena dos parceiros.

“No caso específico da reunião da RETS-CPLP, eu destaco a possibilidade de reencontrar parceiros com os quais trabalhamos, ao longo dos últimos anos, em projetos colaterais e a discussão e aprovação do Regulamento que possibilitou o reforço de entendimento sobre o posicionamento e a importância dos parceiros na RETS, além promover uma discussão profícua sobre o estatuto da rede parceira da RETS, numa base de entendimento de adesão livre e universal”, acrescenta. “Para os próximos encontros, penso que além de um ou dois painéis temáticos gerais sobre a natureza, a importância e o papel das redes, também vale abrir espaço para a participação dos parceiros, no sentido de dar a conhecer as diversas realidades e experiências nos países. Isso serviria para ampliar o conhecimento mútuo entre parceiros da rede e a troca de experiências. Também poderia ser interessante promover espaços com inscrição prévia dos parceiros para apresentarem comunicações livres, abrindo assim a Reunião da RETS para integração de uma perspectiva política, científica, pedagógica e técnica”, sugere João, lembrando ainda que poderia se pensar em alguns workshops ou espaços próprios mais dirigidos aos docentes, outros para dirigentes e ainda outros momentos para o encontro de estudantes das várias instituições e realidades retratadas pela RETS, viabilizados por meio de inscrição livre e paga pelos próprios participantes/parceiros. “Para finalizar, deixo meus votos para a continuação de um bom trabalho e um forte agradecimento pelo esforço e dedicação da Secretaria Executiva da RETS. Parabéns! Cumprimentos a todos deste lado do Atlântico”, conclui.

Também de Portugal chegam as palavras carinhosas de Deolinda Cruz, que participou da Reunião representando o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), um parceiro tradicional da RETS. Segundo ela, a RETS-CPLP é um espaço privilegiado, é um “encontro de amigos” que a mesma língua aproxima e constitui um importante Fórum de troca de impressões e enriquecimento pessoal, pois permite alargar conhecimentos e entender as dificuldades e os esforços hercúleos e nem sempre reconhecidos dos dirigentes de Escolas com problemas tão diferentes, vindos de países em que muitas vezes só a língua é comum, pois as realidades divergem de forma gritante. “O discurso é vivo e espontâneo, com discussão acesa e com o consenso sempre alcançado, ainda que algumas vezes com dificuldade. Creio que o esforço da Secretaria Executiva no futuro reside em tentar manter uma linha de continuidade dos participantes, e que eles, deixando de lado uma visão de participação individual, passem a representar efetivamente seu país e sua escola”, diz, completando: “Penso que iremos conseguir, mas vai levar tempo”.

“A RETS-Unasul foi para mim uma experiência nova, mas muito agradável, pois me permitiu conhecer uma realidade diferente, aliada a uma cultura toda ela desconhecida para mim. Será mais difícil o consenso pelas diferenças existentes, mas é sem dúvida um local privilegiado para troca de experiências que podem ser complementares e enriquecerem ambas as partes”, afirma. “Realço de novo o trabalho da Secretaria Executiva em conseguir juntar ‘dois mundos’, de forma profissional, com elevado rigor técnico, mas também em um ambiente extraordinariamente amistoso em que todos se envolveram e que, estou ciente, dará frutos no futuro”, acrescenta.

Carlos EinsmannNa opinião de Carlos Einisman, presidente da Associação Argentina de Técnicos em Medicina Nuclear (AATMN), a Reunião da RETS significou uma nova oportunidade de reencontrar e de aprofundar os vínculos entre os membros, conhecer as diferentes situações e poder construir uma visão mais ampla e enriquecedora da realidade regional. “Vemos, com prazer, os passos dados nesse espaço e o reconhecimento do lugar que ocupam os trabalhadores e profissionais da saúde, mesmo com as importantes diferenças que persistem nas diversas realidades locais. A Rede é um excelente cenário político e intelectual para a interação entre os membros e a melhor estratégia de fortalecimento do trabalho conjunto”, defende, sugerindo que já é hora de se gerar, no âmbito da RETS, pesquisas sobre a invisibilidade dos técnicos em saúde e de pensarmos em conjunto uma estratégia para revertê-la. “Que nós das associações de técnicos em saúde participemos mais da RETS, já que a educação é determinante da qualidade e alcance do exercício profissional”, finaliza.

Fotos/Ilustrações: 

Maycon Gomes (EPSJV) e Paulo Alves (PHD Audiovisuais/CPLP)