Uma grande tempestade no horizonte: DCNT e problemas de saúde mental custarão bilhões à América do Sul até 2050
Relatório divulgado em 15 de julho de 2025 pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alerta para um impacto econômico devastador na América do Sul causado pela falta de tratamento adequado às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e aos transtornos de saúde mental. Segundo o documento, o continente pode acumular um prejuízo de até US$ 7,3 trilhões entre 2020 e 2050, valor equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) anual da América Latina e Caribe. A perda é atribuída principalmente à redução da produtividade, aos custos crescentes com internações e ao afastamento prolongado de trabalhadores por condições como depressão, ansiedade, Alzheimer, diabetes e doenças cardiovasculares.
No caso do Brasil, as projeções são ainda mais preocupantes. O país pode enfrentar sozinho perdas estimadas em US$ 3,7 trilhões ao longo das próximas décadas. Esse valor corresponde a cerca de metade do impacto total previsto para o continente.De acordo com o IBGE, só em 2019, as DCNT foram responsáveis por 41,8% das mortes no país, demonstrando a centralidade desse tipo de doença no cenário de saúde pública brasileira.
A OPAS aponta três causas principais para o prejuízo: mortes prematuras (em pessoas com menos de 70 anos), incapacitação de longo prazo e queda na participação da força de trabalho.
Além das doenças físicas, os transtornos mentais são destacados como parte essencial do problema. O relatório considera como determinantes as condições como depressão, ansiedade, demências (como o Alzheimer), autismo e outros distúrbios do neurodesenvolvimento. A falta de diagnóstico, tratamento precoce e acompanhamento contínuo colabora para a sobrecarga dos sistemas de saúde e a exclusão de milhões de pessoas do mercado de trabalho.
Os dados da OPAS se somam ao diagnóstico do próprio Ministério da Saúde brasileiro, que publicou em fevereiro de 2025 a 13ª edição do relatório Saúde Mental em Dados. Segundo o levantamento, foram realizados 34,8 milhões de acolhimentos em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) apenas em 2023, com crescimento de 10% em relação ao ano anterior. Ainda assim, o acesso continua desigual: apenas 1,13 CAPS por 100 mil habitantes está disponível no Brasil, índice que cai drasticamente em estados da região Norte.
A análise da OPAS foi realizada em parceria com a Harvard T.H. Chan School of Public Health e serve como alerta para os formuladores de políticas públicas. O relatório propõe medidas imediatas para mitigar os impactos, como o fortalecimento da atenção primária, investimentos em saúde mental, regulação de fatores de risco (como tabaco e álcool) e a criação de ambientes de trabalho mais saudáveis. As recomendações serão levadas à Assembleia Geral da ONU em setembro, em uma tentativa de colocar o tema no centro da agenda global.