Organização Mundial da Saúde alerta lacuna superior a 50% no tratamento da epilepsia nas Américas e no Caribe
“As pessoas que têm epilepsia e não recebem tratamento sofrem com episódios recorrentes. Isso pode afetar seus estudos, trabalho e qualidade de vida, além das suas famílias”, declarou a assessora regional da Organização Pan-Americana da Saúde para saúde mental, Claudina Cayetano. A doença é um dos transtornos neurológicos mais comuns, que afeta aproximadamente 50 milhões de pessoas no mundo. Destas, cinco milhões são das Américas e do Caribe. Estima-se que mais da metade desses pacientes não recebam tratamento. Por esta razão, a Opas publicou o documento “The Management of Epilepsy in the Public Health Sector 2018” (disponível em inglês e espanhol). A Organização que também é escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que a epilepsia seja um problema prioritário de saúde pública.
Apesar dos dados preocupantes, dois em cada três países da região não possuem um programa para atender os afetados pelo transtorno. A atenção às doenças crônicas não transmissíveis tem ganhado força nos últimos anos. A partir de 2011, o Conselho Diretivo da OPAS adotou uma estratégia para melhorar a resposta do setor da saúde. Quatro anos depois, a Assembleia Mundial da Saúde também reconheceu a carga da epilepsia e a necessidade de os países tomarem medidas coordenadas para lidar com suas consequências. Entretanto, os resultados ainda não têm sido satisfatórios.
Acesso a medicamentos
Acredita-se que as razões pelas quais as ações nas Américas e no Caribe não têm sido efetivas são, entre outros fatores: a falta de profissionais capacitados, o pouco incentivo de educação sobre a epilepsia, tanto para pacientes quanto para a população em geral, e a indisponibilidade de medicamentos – sobretudo no âmbito da atenção primária de saúde (APS).
Segundo a Opas, a maior parte desses países possui os quatro remédios essenciais para o tratamento da epilepsia, no entanto, apenas em serviços especializados. Isto é, o acesso aos medicamentos é limitado, enquanto, na verdade, deveria ser amplo na APS. A OMS recomenda uma integração do manejo da doença, já que considera o diagnóstico como essencialmente clínico e que pode ser realizado por médicos não especialistas. Os episódios do transtorno podem ser controlados por meio do tratamento com apenas um dos fármacos básicos (monoterapia). Para promover o acesso aos antiepilépticos a preços acessíveis e reduzir essa grande lacuna de tratamento, a OPAS conta com o Fundo Estratégico, mecanismo de cooperação com os países.
O guia
Além desses pontos, o guia também oferece estratégias de prevenção da epilepsia, como a promoção da gravidez e do nascimento sem riscos, a prevenção dos traumatismos cranioencefálicos e acidentes vasculares cerebrais, bem como o aumento da sensibilização e do público.
A nova publicação, que se soma aos recentes esforços desta década, foi submetida à consulta de um grupo de profissionais da Liga Internacional Contra a Epilepsia (ILAE) e do Bureau Internacional para a Epilepsia (IBE), assim como de especialistas da Liga Chilena contra a Epilepsia e da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, ambas centros colaboradores da OPAS/OMS.
Sobre a Epilepsia
A epilepsia é caracterizada por crises recorrentes, que podem durar entre poucos segundos e alguns minutos. A doença afeta pessoas de qualquer faixa etária, por razões diversas. Em alguns casos, há uma ligação genética, mas outras causas incluem danos cerebrais por lesões pré-natais ou perinatais; anomalias congênitas ou malformações cerebrais; traumatismos cranioencefálicos; acidentes cerebrovasculares; infecções como meningite, encefalite e neurocisticercose; e tumores cerebrais.
Entre transtorno é responsável por 0,5% da carga global de doenças. Dois milhões de novos casos ocorrem todos os anos no mundo, mas em países em desenvolvimento esse registro é duas vezes maior do que o dos desenvolvidos. Quanto à mortalidade, na América Latina e no Caribe a taxa é de 1,04 por 100.000 habitantes, superior a 0,50 por 100.000 habitantes nos Estados Unidos e no Canadá.
Tratamento
70% das pessoas afetadas podem ser tratadas com medicamentos básicos e somente 10% dos casos requer uma abordagem especializada com dieta ou cirurgia. Já sobre a eficácia, cerca de 20% dos casos complexos não respondem. Estima-se, porém, que, se a cobertura do tratamento com medicamentos antiepilépticos for estendida para 50% dos casos, a atual carga global da doença seria reduzida entre 13% e 40%.
80% dos países da região das Américas e do Caribe não possuem legislação apropriada sobre a doença. "Com um diagnóstico oportuno, tratamento adequado, dieta saudável e controle do estresse, até 70% dos acometidos pela doença podem reduzir as crises e levar uma vida plena e ativa”, finalizou Claudina Cayetano.