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Publicado em: 24/11/2015

Unicef: sem sanitários, a infância é ainda mais arriscada devido à desnutrição

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Unicef

A falta de acesso a instalações sanitárias está colocando em risco milhões das crianças mais pobres do mundo, afirmou hoje a Unicef, apontando para evidências emergentes de ligações entre o saneamento inadequado e desnutrição.
 
Pelo menos 2,4 bilhões de pessoas no mundo não têm vasos sanitários e 946 milhões - cerca de 1 em cada 8 da população do mundo - defecam a céu aberto. Enquanto isso, um número estimado de 159 milhões de crianças menores de 5 anos são raquíticas e outros 50 milhões são desnutridas.
 
Um relatório emitido hoje, Improving Nutrition Outcomes with Better Water, Sanitation and Hygiene, da Unicef, Usaid e da Organização Mundial de Saúde, pela primeira vez, reúne anos de pesquisas e estudos de caso que demonstram a ligação entre o saneamento e a desnutrição. Além disso, o relatório fornece orientação para a ação.
 
A falta de saneamento e a defecação a céu aberto contribui para a incidência de diarreia e para a disseminação de parasitas intestinais que, por sua vez, causam a desnutrição.

"Precisamos trazer soluções concretas e inovadoras para o problema de locais que as pessoas usam como banheiro, caso contrário, nós estaremos falhando com milhões das nossas crianças mais pobres e vulneráveis", disse Sanjay Wijesekera, chefe de programas de água, saneamento e higiene globais da Unicef. "A ligação comprovada com a desnutrição é mais um segmento que reforça como as nossas respostas têm que ser interligadas ao saneamento, se quisermos ter sucesso," ele acrescenta.
 
A diarreia é a causa de 9% das mortes de crianças menores de 5 anos de idade a cada ano e, além disso, é essencialmente uma doença fecal-oral, onde os germes são ingeridos devido ao contato com fezes infectadas. Onde  as taxas do uso de um local adequado para a higiene são baixas, o número de casos de diarreia tendem a ser elevados.
 
Crianças menores de 5 anos de idade sofrem 1,7 bilhões de casos de diarreia por ano. As que vivem em países de baixa renda são as mais atingidas, com uma média de três episódios por ano. A maior freqüência está nas crianças menores de 2 anos de idade, que são mais fracas e vulneráveis. Vários episódios de diarreia alteram permanentemente o seu intestino e impedem a absorção de nutrientes essenciais, colocando-as em risco de raquitismo e até mesmo de morte.
 
Cerca de 300.000 crianças menores de 5 anos de idade morrem por ano - mais de 800 todos os dias - de doenças diarreicas ligadas à água, saneamento e higiene inadequados. As crianças mais pobres da África Subsaariana e no Sul da Ásia estão, particularmente, em risco.
 
Doenças causadas por parasitas intestinais, como ascaridíase, tricuríase e ancilostomíase, são transmitidos através do solo contaminado em áreas onde a defecação ao ar livre é praticada. A ancilostomíase é uma das principais causas de anemia em mulheres grávidas, fazendo com que os bebês nasçam desnutridos e de pouco peso.

Alguns países fizeram progressos significativos tanto no acesso ao saneamento, quanto ao estado nutricional de suas crianças. Muitos têm usado com sucesso o Saneamento Total Liderado pela Comunidade da Unicef, onde as próprias populações afetadas recebem soluções locais para o problema da defecação a céu aberto.

• O Paquistão cumpriu o Objetivo do Desenvolvimento do Milênio de 2015 de reduzir para metade a proporção de pessoas que, em 1990, não tinham acesso a saneamento melhorado. Usando o programa de Saneamento Total, comunidades inteiras abandonaram a prática de defecação a céu aberto, levando à melhoria dos indicadores de saúde e nutrição entre as crianças.

• A Etiópia mobilizou trabalhadores comunitários e alcançou a maior diminuição global na proporção da população que não têm acesso ao saneamento básico. Apesar do crescimento da população, a prática reduziu 92% (44 milhões de pessoas) em 1990 para 29% (28 milhões de pessoas) em 2015.
 
• Em Mali, a abordagem do programa de Saneamento Total foi usaa também em comunidades com altas taxas de desnutrição, agravadas pela seca na região do Sahel. Houve uma melhoria no acesso e uso de latrinas e na saúde e nutrição em crianças.
 
• Durante a emergência ligada ao conflito na República Democrática do Congo, foram utilizadas intervenções integrais de nutrição e água, saneamento e higiene para as comunidades deslocadas. Essa iniciativa reduziu significativamente a desnutrição e as doenças transmitidas pela água em crianças menores de 5 anos de idade. Cerca de 60% da população construiu latrinas e pelo menos 90% das crianças desnutridas retornaram ao peso normal durante um período de 12 meses.
 
"Não há desculpas para não atuar no acesso as instalações sanitárias, mesmo nas comunidades mais pobres ou em situações de emergência", disse Wijesekera. "Por outro lado, existem milhões de razões - todas e cada uma das crianças que sofrem de raquitismo ou desnutrição, ou pior, que adoecem e morrem - para tratar isso com a urgência que merece," ele completou.