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Publicado em: 26/07/2019

Diretora da Opas pede que países repensem resposta ao HIV

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A inovação científica tem garantido um progresso sem precedentes no combate ao HIV/Aids, mas os países devem repensar sua resposta para pôr fim à epidemia até 2030. O alerta foi feito pela diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne, na 10ª Conferência da IAS sobre Ciência do HIV, IAS 2019. O evento organizado pela Sociedade Internacional de Aids terminou na quarta-feira, dia 24, na Cidade do México. Carissa tab afirmou que “a ciência tem guiado a inovação rumo a um progresso sem precedentes na resposta a uma doença infecciosa que, até pouco tempo, representava uma ameaça à vida de muitas pessoas", mas que, apesar disso, “o mundo não está a caminho de alcançar o objetivo de eliminar a Aids como uma ameaça para a saúde pública até 2030”.

Conferência

A diretora da Opas/OMS reconheceu que a elaboração e a implementação de enfoques baseados em saúde pública, direitos humanos e evidências têm conseguido reverter o curso da epidemia em muitos países.

A diretora destacou que “com base em nossos êxitos anteriores, é hora de reconsiderar nossa resposta para assegurar que alcancemos nossos objetivos.” Além disso, ela pontuou que “o caminho para acabar com a Aids passa por oferecer acesso e cobertura universal de saúde”.

Relatório

Um novo relatório divulgado durante a conferência (Global AIDS update 2019 — Communities at the centre) mostra que  o ritmo de progresso na redução de novas infecções por HIV entre crianças e a expansão do acesso a tratamento para crianças, adolescentes e mulheres grávidas que vivem com o vírus diminuiu significativamente.  

Dados também indicam que as metas globais que foram estabelecidas para 2018 não foram alcançadas, apesar de importantes ganhos terem sido feitos em alguns países.

Populações-chave

Novas infecções por HIV registraram um aumento de 29% na Europa Oriental e na Ásia Central, de 10% no Oriente Médio e Norte da África e de 7% na América Latina.

Populações-chave, representadas por homens que fazem sexo com homens, pessoas transexuais e profissionais do sexo, e seus parceiros sexuais, representam agora até 54% das novas infecções em todo o mundo. Porém, menos de 50% são alcançados com a gama de métodos de prevenção que, combinados, podem evitar a infecção.

Crianças

Globalmente, cerca de 160 mil crianças com idade entre os zero e os 14 anos foram infectadas pelo HIV em 2018. Este é um decréscimo importante em relação as 240 mil novas infecções em 2010. No entanto, como destaca o Programa Conjunto sobre HIV/Aids, a ambiciosa e importante meta estabelecida para 2018 foi de menos de 40 mil novas infecções. 

O relatório aponta ainda que houve progresso considerável entre os países do leste e sul da África, com mais de 90% das mulheres grávidas acessando medicamentos antirretrovirais em países como Etiópia, Quênia, Uganda, Tanzânia e Zimbábue e 95% ou mais em Botsuana, Malauí, Moçambique, Namíbia e Zâmbia. Cerca de 82% das mulheres grávidas que vivem com o HIV agora têm acesso aos medicamentos antirretrovirais.

Novas Infecções

Isso teria resultado em uma redução de 41% nas novas infecções por HIV entre crianças, com notáveis ​​reduções alcançadas em Botsuana, 85%, Ruanda, 83%, Maláui, 76%, Namíbia, 71%, Zimbábue, 69%, e Uganda, 65%, desde 2010.

Para o Unaids, os progressos realizados por esses países mostram o que pode ser alcançado por meio de forte liderança política, adoção rápida de políticas e esforços conjuntos de todas as partes interessadas.

As crianças que vivem com o HIV também estão sendo deixadas para trás no aumento do tratamento e não estão sendo diagnosticadas e tratadas precocemente. Estima-se que 940 mil crianças com idades entre zero e 14 anos estavam acessando o tratamento em 2018, o dobro do número que estava em tratamento em 2010, mas muito aquém da meta de 1,6 milhões estabelecida para 2018.

Tratamento

Segundo o estudo, as crianças que vivem com o HIV têm menos probabilidade de ter acesso ao tratamento do que os adultos que vivem com o vírus, uma disparidade que está aumentando em alguns países, especialmente na África ocidental e central. Como resultado, a epidemia de Aids ainda está reivindicando a vida de muitas crianças de zero a 14 anos.

O relatório também indica que o objetivo de reduzir o número anual de novas infecções por HIV entre mulheres jovens e meninas adolescentes com idade entre 15 e 24 anos para menos de 100 mil até 2020 é improvável de ser alcançado.

Resposta ao HIV

Para Carissa, a Agenda de Desenvolvimento Sustentável e o reforço do compromisso global com a cobertura universal de saúde são uma oportunidade para a sustentabilidade e o financiamento da resposta ao HIV, assim como a integração e ampliação da prevenção, diagnóstico e tratamento da infecção com outros serviços de saúde.

A diretora acredita que “é hora de os serviços de prevenção, diagnóstico e tratamento antirretroviral para HIV estarem totalmente disponíveis junto aos serviços de tuberculose, infecções sexualmente não transmissíveis, hepatites virais, saúde sexual e reprodutiva e doenças crônicas não transmissíveis no primeiro nível de atenção, onde as necessidades das comunidades afetadas podem ser mais bem atendidas.”

Estrutura 3D de células infetadas com HIV, a verde e azul, interagindo com células não infetadas, a castanho e roxo. , by Donald Bliss/NLM/NIH

Serviços

O enfoque de integração de serviços, segundo Carissa, tem sido promovido pela Opas nas Américas e conseguido a eliminação dual da transmissão vertical do HIV e da sífilis em diversos países por meio da provisão de serviços integrais de saúde materno-infantil oferecidos na atenção primária à saúde.

A diretora da Opas considera que são necessárias mais pesquisas para que a inovação continue melhorando a efetividade dos métodos de prevenção, os regimes de tratamento, o desenvolvimento de novas ferramentas de laboratório e o uso de plataformas integradas para o diagnóstico e o monitoramento.

Dados e Evidências

Além disso, para Carissa são necessários mais dados e evidências para a prestação de serviços custo efetivos e amigáveis com o intuito de refinar a luta contra o estigma e a discriminação nos serviços de saúde e continuar explorando novos mecanismos de financiamento que promovam a sustentabilidade.

Depois de reconhecer as contribuições da comunidade Lgbti e salientar que o princípio do ativismo contra o HIV de “não deixar ninguém para trás” se tornou um eixo central da agenda de desenvolvimento, ela revisou os dados mais recentes sobre a epidemia.

A representante apontou que “a ciência e a inovação devem encontrar soluções para novos e antigos desafios.” Para ela, “os novos conhecimentos e orientações só terão impacto se houver programas nacionais e sistemas comunitários sólidos nos países para implementá-los.”

A diretora da Opas indicou ainda que “a ciência, a evidência e a inovação devem continuar a orientar políticas, programas e investimentos em HIV” e pediu a todos os parceiros que intensifiquem e acelerem as ações para acabar com a Aids até 2030.

Fotos/Ilustrações: 

Foto AFP/ Mujahid Safodien