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Publicado em: 27/08/2024

Os técnicos em saúde e o CVSP/Opas: conheça esse universo

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Ana Beatriz de Noronha

O segundo evento do Ciclo de Webinários ‘O CVSP e a formação dos técnicos em saúde”, realizado no dia 20 de agosto, teve como principal objetivo compartilhar os resultados de uma pesquisa desenvolvida pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Centro Colaborador OMS para Educação de Técnicos em Saúde, em parceria com o Campus Virtual de Saúde Pública da Organização Pan-americana da Saúde (CVSP-Opas/OMS) com apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid).

Participaram do evento o coordenador do CVSP, Gabriel Listovisky; a chefe da Área de Saúde da Aecid, Oriana Ramirez Rubio; a consultora internacional do CVSP Isabel Duré; o coordenador de Cooperação Internacional da EPSJV/Fiocruz, Carlos Eduardo Batistella; e os pesquisadores Gabriel Muntaabski e Fernando Santoro.
O objetivo geral da pesquisa foi o de contribuir para a ampliação e qualificação do acesso dos técnicos em saúde aos materiais educativos disponibilizados pelo CVSP, por meio da análise do perfil e das trajetórias educativas dos técnicos em saúde que se inscrevem nos cursos do campus. 

Várias instituições, um único objetivo: fortalecer a formação de técnicos em saúde

Após a abertura do seminário, feita por Batistella, a palavra ficou com Gabriel Listovsky que, na ocasião também representou Benjamin Puertas, chefe da Unidade de Recursos Humanos para a Saúde da Opas/OMS.

Listovsky iniciou sua fala destacando que o CVSP, que comemorou 20 anos de existência em 2023, registra mais de três milhões de usuários e mais de sete milhões de matrículas em seus cursos, o que reforça o compromisso de estar sempre buscando melhorar sua atuação com vistas a atender de forma cada vez às necessidades daqueles trabalhadores que mantêm os sistemas nacionais de saúde. “Não há sistema de saúde sem recursos humanos. Por isso eu comemoro esse trabalho cooperativo que estamos, há quase um ano, realizando com a Escola Politécnica”, enfatizou, reforçando o compromisso e o interesse do CVSP de chegar de uma forma mais efetiva aos técnicos em saúde da região das Américas.

Segundo ele, o CVSP tem buscado trabalhar com instituições de prestígio e capacidade de trabalhar em rede para desenvolver atividades de investigação que permitam que o CVSP possa aprimorar seu trabalho formativo e tomar decisões com base em informações de qualidade. Listovsky agradeceu a todos os envolvidos no estudo e ressaltou: “Esse é apenas o início de um percurso que seguiremos construindo juntos. O resultado da pesquisa que será apresentado hoje, abre a porta para discutirmos e analisarmos a melhor forma de continuarmos a trabalhar para atender ainda melhor as necessidades formativas dos trabalhadores de saúde que buscam o CVSP”. Por fim, ele agradeceu o apoio recebido da Aecid, lembrando que a agência espanhola vai continuar a financiar a segunda etapa do projeto.

Em sua participação, Oriana Ramirez Rubio elogiou a importância do projeto e do contexto de cooperação em que ele foi realizado. Ela ressaltou que a cooperação internacional para o desenvolvimento é uma das políticas públicas mais importante da Espanha, onde foi referendada por uma lei de cooperação internacional de desenvolvimento e solidariedade internacional, de janeiro de 2023, e pelo VI Plano Diretor de Cooperação, aprovado este ano, que define a cooperação espanhola tanto na perspectiva estratégica quanto na perspectiva geográfica. Nesse sentido, segundo ela, as regiões da África Subsaariana, do Oriente Médio e da América Latina, na qual a Aecid tem centros formadores em vários países, são consideradas prioritárias. “Acredito que a Espanha seja um ator interessante, um aliado estratégico na área da cooperação triangular e na cooperação sul-sul, que privilegia a cooperação de igual para igual, entre pares”, explicou, destacando que, no âmbito das cooperações setoriais, a Espanha vem levantando a bandeira da igualdade de gêneros, da importância do meio ambiente e das mudanças climáticas, mas também está preocupada com o fortalecimento das instituições públicas de saúde, na perspectiva da cobertura universal e o direito de acesso à saúde.

Sobre a cooperação multilateral, ela destacou a Opas como parceira de longa trajetória. Segundo ela, em 2017, a Espanha criou um fundo de cooperação muito potente, que vem sendo renovado todos os anos e que valoriza as ações de formação, especialmente na forma virtual, que se mostrou fundamental no período da pandemia. “Nesse contexto, a parceria com o CVSP é fundamental para fortalecer a formação continuada na área da saúde, especialmente para aqueles que estão em regiões remotas e desatendidas”.

Falando em nome de Anamaria Corbo, diretora da EPSJV, Batistella falou um pouco da Escola Politécnica, que havia completado 39, no dia anterior ao evento e que há 20 anos é Centro Colaborador da Opas/OMS para a Educação de Técnicos em Saúde, além de ser Secretaria Executiva da Rede Internacional e da Rede Ibero-americana de Educação de Técnicos em Saúde e da Rede de Escolas Técnicas de Saúde da CPLP. 

“Desde sua criação, a EPSJV assumiu o compromisso de trabalhar nas áreas de educação, pesquisa, comunicação e desenvolvimento tecnológico para fortalecer a formação de técnicos em saúde. Durante a pandemia, ficou ainda mais claro para nós a importância de termos sistemas de saúde fortalecidos e capazes de dar respostas rápidas e eficazes às emergências sanitárias e isso implica aprimorar cada vez mais a formação dos técnicos do setor que, apesar de serem base dos sistemas de saúde, continuam invisibilizados”, disse, complementando diminuir essa invisibilidade é um dos objetivos da parceria com o CVSP.

A pesquisa e seus resultados

Fernando Santoro iniciou a apresentação da pesquisa, explicando brevemente a metodologia utilizada para a obtenção e análise dos dados disponíveis sobre os técnicos de saúde matriculados nos cursos da CVSP de 01/01/2018 a 31/12/2023. (acesse o PDF da apresentação feita por Fernando Santoro e Gabriel Muntaabiski)

Ele explicou que o primeiro passo para a realização da pesquisa foi o tratamento dos dados existentes na base do CVSP e que são originados por meio do formulário de inscrição nos cursos. “A questão do tratamento dos dados foi por conta, principalmente, do campo ‘ocupação’ no formulário de inscrição, que permite o livre preenchimento por parte do usuário”, justificou.

Ele explicou que os usuários do Campus Virtual têm uma diversidade muito grande. Há pessoas que não trabalham em uma instituição de saúde, mas tem formação na área. Daquelas que trabalham em uma instituição de saúde, há os que têm formação área e os que não tem. Além disso, há pessoas que têm formação na área, mas estão desempregadas e, finalmente, há aqueles que não têm formação na área e nem trabalham em instituições de saúde, mas têm interesse em questões de saúde.  Segundo Fernando, no momento da inscrição, os usuários podem escolher uma opção dentre as 19 de nível superior ou escolher uma das 23 ocupações de nível técnico, como mostra o quadro abaixo, construídos a partir das ocupações definidas na ISCO-08, publicada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas também pode digitar, no campo “outros” a ocupação que quiser, caso não se identifique com nenhuma das 23 opções dadas. “Isso nos leva a casos de policiais, cozinheiros ou até mesmo bailarinos se inscrevendo para cursos ou casos em que a pessoa não identifica sua ocupação e digita qualquer coisa apenas para cumprir a etapa de inscrição”, exemplificou.

O primeiro passo, portanto, foi trabalhar esse campo para recuperar o maior número de registros possíveis para a análise. “Em dezembro de 2023, nós conseguimos identificar 340.088 (100%) usuários de nível técnico, sendo que desses 65.469 (19%) foram recuperados da coluna outros”, detalhou Santoro.

Com os dados tratados, a próxima etapa foi a definição de que tipo de informações seriam relevantes para a pesquisa. Isso foi feito por meio da criação de um dashboard, utilizando a ferramenta Power BI (ver figura abaixo), que pode ser acessado em tempo real pelo link: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiNDEzYjFmOWMtZmJiNi00ODY5LWIzNGYtNWZlODRhMTgwZDU3IiwidCI6IjQwMDRiYTU1LTMxNDYtNGFiZi04NGNkLTk1ODUzZjYzYWE0OSJ9

            

Segundo o pesquisador, para criar o dashboard foi necessário definir todos os filtros a serem utilizados para as análises. “Nós optamos por analisar quatro dimensões: inscritos (usuários), países, profissões (ocupações) e cursos. Além disso, criamos duas segmentações para filtros rápidos. Uma com relação ao período da pesquisa, que decidimos dividir em três: a pré-pandemia (2018 e 2019), a pandemia (2020 e 2021) e a pós-pandemia (2022 e 2023)”, ressaltou, destacando o fato de o Power BI ser uma bastante interativa que permite diferentes análises, com base nas dimensões definidas na pesquisa, de acordo com a informação desejada.

A apresentação seguinte foi de Gabriel Muntaabski, que trouxe uma pequena amostra dos resultados da investigação sobre o universo de técnicos que utilizam o Campus Virtual. 

Para começar ele apontou que os 340.088 usuários técnicos citados anteriormente geraram 877.920 matrículas em cursos do CVSP, com uma média de 2,48 matrículas por usuário. Outro esclarecimento é que a pesquisa é de caráter descritivo e que nos mostra tendências “Para entendermos as relações entre esses dados, é necessário gerar mais informações por meio de pesquisas qualitativas, informações essas que nos permitirão tomar decisões cada vez mais esclarecidas”.

A análise mostrou que houve uma enorme evolução mensal acumulada, desde janeiro de 2018 até dezembro de 2023, no número de usuários técnicos no CVSP, que passou de 28.163 a 340.088. O número de matrículas teve e continua tendo um enorme crescimento também.

Esse resultado tende a confirmar que o CVSP foi uma potente ferramenta na formação de trabalhadores no enfrentamento da situação durante a pandemia. No que se refere ao período pós-pandêmico, a análise da idade desses usuários, que mostra predominância de pessoas de até 41 anos e o grande crescimento dos usuários ainda mais jovens, também nos dá pistas de como os cursos do CVSP vêm se tornando um recurso utilizado pelos estudantes da área em seus estudos.

Com relação ao local de trabalho, segundo Muntaabski, não houve mudanças significativas durante o período estudado. A maior porcentagem usuários trabalha em hospitais (42,5%), seguida por centros de saúde (25%). A pesquisa mostrou, com exceção dos agentes comunitários, que trabalham principalmente em centros de saúde, os principais grupos trabalham em hospitais.

 

      

O pesquisador também apresentou dados referentes ao gênero dos técnicos que utilizam o CVSP. “Seguindo a tendência da força de trabalho de saúde, no CVSP, a grande maioria dos técnicos é do gênero feminino (79,6%)”, constatou.

Os números referentes à ocupação desses trabalhadores revelam que do quadro de 23 profissões apresentados anteriormente por Fernando Santoro, apenas oito reúnem 91,87% dos usuários estudados, sendo que 78,26% do total pertencem ao grupo de enfermagem, incluindo auxiliares, assistentes, profissionais de nível médio e superior. Dos usuários técnicos, os trabalhadores comunitários são os que mais utilizam os recursos disponíveis no CVSP. “Como se pode ver, há uma grande concentração de poucas profissões”, reiterou Muntaabski.

Sobre a origem dos usuários, de todos os 35 países das Américas, oito – México (42,79%), Colômbia (30,2%), Equador (9,78%), Argentina (3,37%), Chile (3,01%) Peru (2,5%), El Salvador (1,77%) e Guatemala (0,98%) – representam 94,22% dos usuários estudados. Isso, segundo o pesquisador, nos aponta para a enorme possibilidade de crescimento no demais 27 países da região. “Por conta das grandes diferenças populacionais entre esses países, também optamos fazer um estudo do número de usuários por cada 100 mil habitantes e então podemos ver, entre os três países com mais usuários, a Colômbia apresentou um crescimento muito grande durante a pandemia e segue crescendo ultrapassa o México, que era o primeiro em quantidade absoluta de usuários”, acrescentou, destacando o crescimento espetacular de usuários de El Salvador, um pequeno país, em termos populacionais, na pós-pandemia, especialmente por conta de cursos sobre doenças não transmissíveis.

     
 

Que cursos fazem os técnicos? Dos 407 cursos oferecidos pelo CVSP na pós-pandemia, oito reúnem 52,14% dos usuários. ‘Doença não transmissíveis’ (29,48%), ‘respostas a epidemias’ (15,6%) e ‘zoonoses, doenças negligenciadas, doenças tropicais e doenças transmitidas por vetores’ (11,16%) são as temáticas que mais atraem os usuários. 

Com respeito às competências que os usuários buscam desenvolver, os cursos são classificados em quatro categorias: conhecimento de novos protocolos e sua utilização; aquisição de técnicas ou uso de ferramentas específicas que permitem trabalhar melhor em sua carreia, sensibilização de equipes em temáticas prioritárias e gestão em saúde. No caso da duração dos cursos, a opção principal dos usuários técnicos do campus virtual são os de 8h até 24 horas.

     

Outro dado importante da pesquisa foi sobre o nível de concretização dos cursos. Quase 70% dos alunos foram aprovados e apenas cerca de 5% foram reprovados. Além disse mais de 98% dos usuários avaliou os cursos como de grande pertinência. “Quando comparamos esses resultados com o de outras pesquisas internacionais sobre cursos virtuais que apontam de cerca de 12% a 30% de conclusão de cursos, podemos dizer que é um excelente resultado”, comentou Muntaabski.

Para finalizar, ele resumiu os principais dados da pesquisa que registrou um grande crescimento no uso de CVSP pelos técnicos em desde a pandemia, a predominância de mulheres e jovens entre esses usuários, a concentração da origem em oito países, a predominância da área de enfermagem, a preferência pela realização de cursos com duração de menos de 24 horas e de oitos temas específicos, a alta taxa de aprovação e relacionados ao desenvolvimento de competências técnicas.

Por fim, ele destacou as principais recomendacções resultantes da pesquisa.

  • Classificação de ocupações: continuar a tarefa de classificar o campo “outros” do formulário de inscrição para todo o universo de usuários.

  • Coleta de dados: é importante discutir modificações no sistema de matrícula para reduzir a categoria “Outros”.

  • Fatores que afetam positivamente a demanda por cursos: iniciar um processo de pesquisa qualitativa e quantitativa nos oito principais países sobre os fatores que afetam positivamente (boas práticas) a inscrição nos cursos da CVSP.

  • Dados de base para identificar lacunas: promover pesquisas sobre quantidade, qualidade e localização da força de trabalho de técnicos de saúde nas Américas.

  • Comunicação sobre a oferta do CVSP: Promover e/ou participar de espaços de reunião para técnicos de saúde a fim de identificar demandas e necessidades de treinamento e divulgar a oferta do CVSP. Divulgar os resultados dessa pesquisa com os países membros a fim de gerar um debate sobre a melhoria do acesso à oferta do CVSP.

  • Alianças estratégicas: Fortalecer os vínculos com governos, instituições acadêmicas, organizações e redes de formação de técnicos das Américas para fortalecer o ponto anterior.

Veja o Relatório final da pesquisa na Biblioteca da RETS

CVSP: continuidade dos projetos na busca permanente pelo aprimoramento do trabalho

Dando continuidade ao evento, Isabel Duré, fez uma apresentação sobre o CVSP e o sobre o que está sendo feito para que o CVSP, que é a plataforma educativa da Opas/OMS, cumpra cada vez melhor sua missão de "contribuir para o desenvolvimento das capacidades e competências dos profissionais de saúde, apoiando a transformação dos serviços e práticas de saúde pública na região das Américas'. 

Isabel iniciou sua apresentação destacando o crescimento exponencial que o CVSP vem apresentando em relação ao númeo de usuários – médicos, pessoal de enfermagem, técnicos em saúde e estudantes da área – que atuam em hospitais, em estabelecimentos do primeiro nível de atenção e na gestão. (acesse o PDF da apresentação de Isabel Duré)

Segundo ela, os grandes desafios que o CVSP está enfrentando é sobre o que fazer para alcançar aqueles que ainda não foram alcançados, especialmente os trabalhadores que atual em áreas remotas e mal atendidas e os técnicos em saúde e os trabalhadores comunitários. "Nosso objetivo é fortalecer o uso do CVSP em coordenação com a cooperação técnica, manter e melhorar a qualidade e a acessibilidade da nossa oferta educacional e estar continuamente adaptando as propostas do CVSP às novas tendências globais e aos padrões internacionais", disse.

Nesse sentido, de acordo com Isabel, o 'Projeto AECID 2023-2024 - Recursos Humanos para a Saúde na Covid-19: Fortalecimento das capacidades para melhorar a resposta dos sistemas de saúde', está sendo fundamental. "O objetivo geral desse projeto é fortalecer a resiliência dos sistemas de saúde por meio do conhecimento dos técnicos de saúde que trabalham no primeiro nível de atendimento e melhorar seu acesso à educação virtual e em sua primeira etapa, como vimos nas apresentações anteriores, ele buscou caracterizar o perfil e os percursos de formação dos usuários técnicos do CVSP", explicou. 

Na segunda etapa do projeto (2024-2025), os objetivos específicos do projeto buscarão reconhecer e caracterizar os grupos de trabalhadores técnicos que trabalham no primeiro nível de cuidados; identificar as estratégias pedagógicas e tecnológicas mais eficazes para esse grupo de trabalhadores e melhorar a comunicação para facilitar o acesso desse público aos cursos do CVSP, de acordo com as recomendações feitas na primeira etapa já finalizada.

Com esse intuito, será realizado, juntamente com a equipe da EPSJV/Fiocruz, um mapeamento dos técnicos que trabalham no primeiro nível de atenção e nas redes de APS, buscando identificar suas preferências e condições de acesso à formação ofertada.Além disso, a ideia é elaborar um documento com estratégias pedagógicas e comunicacionais mais adequadas para atingir esse grupo de trabalhadores. Por fim, a intenção é apresentar uma proposta de registro padronizado de todas as ocupações de profissionais de saúde que estão registradas no CVSP. 

Para Isabel, a continuidade da pesquisa poderá responder a várias perguntas que ainda necessitam ser respondidas: Como se compõem as equipes do primeiro nível de atenção nos diversos países? Em que condições os técnicos realizam a formações desejadas? Quais são as legislações nacionais para a certificação dos trabalhadores?, entre muitas outras que, segundo ela, poderão ser respondidas por meio de estudos qualitativos. "Nossa expectativa é que tenhamos informações mais qualificadas que nos permitam promover um maior alinhamento das ofertas de cursos do CVSP com as necessidades de formação dos técnicos da região, incluindo a criação de novos cursos; aumentar o uso dos cursos existentes pelos técnicos, com recomendações de uso, e implementar estratégias de comunicação específicas para a divulgação do CVSP entre esses trabalhadores", concluiu. 

Pesquisa quer mostrar qum são os técnicos em saúde que atuam na APS nos países da América Latina

Para apresentar o projeto do mapeio dos tecnicos em saúde que atuam na atenção primária dos países da América Latina, Carlos Batistella, que é um dos coordenadores do estudo, lembrou que há uma grande diversidade de trabalhadores técnicos de saúde na região e que, apesar de representarem a maioria da força de trabalho em saúde em grande parte dos países, esse grupo de trabalhadores ainda permanece na invisibilidade por conta da falta de conhecimento sobre quem são, o que fazem e onde trabalham. (acesse a apresentação em PDF de Carlos Batistella)

"Sabemos que existem semelhanças e diferenças entre os técnicos desses países que, se analisadas e promovidas por meio de estratégias articuladas de divulgação entre potenciais interlocutores no campo da cooperação internacional, poderiam levar a um fortalecimento em favor do desenvolvimento dessas categorias profissionais e, consequentemente, da APS nos sistemas nacionais de saúde", afirmou.

"Em primeiro lugar eu gostaria de destacar que, no âmbito das redes de formação de técnicos em saúde, temos trabalhado com um conceito ampliado dessa categoria, incluindo todos os trabalhadores que realizam atividades técnico-científicas no setor, desde as mais simples, que exigem baixo nível de formação, como os auxiliares, até as mais complexas, realizadas por técnicos de nível superior", lembrou, completando que, no Brasil, a maioria dos técnicos é formada por mulheres negras de áreas periféricas e de classes sociais menos favorecidas.

Sobre o mapeamento dos trabalhadores técnicos que atuam na APS na América Latina, ele ressaltou que visa contribuir com os processos de cooperação e integração regional e que envolve analisar os aspectos históricos e político-institucionais que moldam a organização da APS em cada país; identificar as categorias profissionais, a formação, as funções e práticas, as formas de relações de trabalho e o grau de institucionalização desses trabalhadores; descrever as características gerais da organização do trabalho dos técnicos de APS nos diferentes países; identificar as principais normas que definem o contexto em que trabalham e regulam o trabalho e a formação desse grupo de trabalhadores; e, também, mobilizar parceiros estratégicos de pesquisa para fortalecer sua capacidade de trabalho colaborativo e a produção de conhecimento compartilhado, bem como para disseminar os produtos e resultados alcançados.

Para o estudo, de caráter qualitativo e exploratório, foram selecionados inicialmente 18 países de língua espanhola e portuguesa com histórico de parceria com a Rede Internacional de Educação de Técnicos em SAúde (RETS): Argentina, Belize, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. "A investigação será realizada de três formas. A primeira envolve uma revisão bibliográfica de arigos, teses e dissertações sobre o tema nos últimos dez anos. Num segundo momento, haverá o levantamento e análise de documentos sobre políticas públicas e normativas que regem a formação e o trabalho dos técnicos nos paíse. Por fim, serão aplicados questionários e feitas entrevistas que forneçam informações sobre a composição das equipes, as funções, perfis profissionais, acesso e participação em atividades formativas e acesso à tecnologia dos técnicos em saúde", explicou o pesquisador.

Batistella, enfatizou que todos os entrevistados serão selecionados por meio da metodologia designada "Bola de neve", e que funciona por meio da seleção inicial de alguns informantes-chave nesses países, os quais vão indicando novos participantes que possam nos ajudar a construir um universo representativo de estudo. Segundo ele, os informantes-chave ou sementes, serão selecionados com apoio dos membros da RETS e de outras redes com as quais a pesquisa já tem uma parceria; assessores e consultores nacionais de Recursos Humanos para a Saúde das representações nacionais da Oas/OMS; assessores e consultores dos escritórios sub-regionais da Opas para a América do Sul e Central; coordenadores dos nós de países do CVSP; e entidades e organizações de cooperação e integração regional, como a Organização Andina de Saúde (ORAS-CONHU), a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica ( OTCA) e a Secretaria Executiva do Conselho de Ministros da Saúde da América Central (COMISCA). 

Dentre os produtos esperados, estão uma publicação eletônica, em português e espanhol, com os resultados da pesquisa e um seminário internacional sobre o tema. "Com essa pesquisa nós esperamos proporcionar uma visão geral das categorias profissionais – formação, funções e práticas, vínculos e graus de institucionalização - do pessoal técnico de saúde que trabalha na APS nos países latino-americanos; a caracterização da organização do trabalho da APS nos países; e, de forma complementar, fortalecer a capacidade de colaboração entre os membros da RETS e de suas sub-redes", finalizou.

Save the date: Encontro Ibero-Americano de Educação Baseada em Simulação para Formação de Técnicos em Saúde

O encerramento do evento veio junto com um convite para que todos participem do Encontro Ibero-Americano de Educação Baseada em Simulação para Formação de Técnicos em Saúde, que ocorrerá nos dias 27, 28 e 29 de novembro, de forma virtual e caráter totalmente imersivo, cuja participação será gratuita e onde todos aqueles que se interessam pelo tema poderão estar em contato direto com especialistas no assunto e técnicos de todas as formações e vários países. "Nossa expectativa é reunir mais de 2500 pessoas que queiram aprofundar seus conhecimentos sobre esse tema e trocar ideias com seus pares", anunciou Gabriel Muntaabski.