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Publicado em: 26/09/2016

Conhecimento ancestral, ciência e conhecimento profissional revigoram os recursos humanos para a saúde materna

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Yesmin Tibocha P. (Tradução: Beatriz Nascimento)

Sob o quadro do Novo Modelo Integral de Atenção em Saúde - MIAS, o Ministério da Saúde e Proteção Social, a Mesa Setorial de Serviços da Saúde e o Serviço Nacional de Aprendizagem (Sena), promoveram um evento internacional como um espaço para consolidar recomendações para a formação e gestão do recurso humano, que exige a saúde materna de acordo com as características populacionais e geográficas da Colômbia.

"Aos 13 anos, eu fiz o meu primeiro parto em Buenaventura, uma grávida de 16 anos.  Foi um parto impulsivo, recebi com muita emoção um bebê prematuro, cortei o cordão umbilical e verifiquei a placenta, que saiu incompleta", disse a Diretora de Associação de Parteiras Unidas do Pacífico Asparupa, Lizeth Quiñones, hoje com 28 anos. "O que eu fiz foi esperar a minha mãe para que a mulher fosse enviada para um hospital mais próximo. Aprendi tudo com a minha mãe parteira, que também me ensinou a conhecer as propriedades das plantas medicinais, nutricionais e aromáticas para a saúde materna e dos bebês em toda a região do Pacífico", completou Lizeth que, junto com a sua mãe e representante legal da organização, Rosmilda Quiñone, lideram a rede nacional de parteiras tradicionais na Colômbia. A rede agrupa oficialmente 254 parteiras do Pacífico colombiano e mais de mil delas em níveis nacionais das regiões Nariño, Cauca e Valle, comprometidas com o fortalecimento, a conservação e a transmissão desse conhecimento.

Essas parteiras faziam parte do grupo de palestrantes que compartilharam suas experiências no Simpósio Internacional de Competências do Recurso Humano para a Saúde Materna. Com a participação de oradores do México, Chile, Peru, Estados Unidos e associações de profissionais da medicina da Colômbia, compartilharam-se as experiências nacionais e internacionais que permitiram definir diretrizes e organizações do recurso humano, que requer a saúde materna como um desafio de ordem pública do país e atende as diversas soluções e experiências de capacitação a nível nacional, encontradas por outros países ou prestadores de serviços de saúde. Essas descobertas reforçariam os processos, tanto de formação, como de organização para o desempenho do recurso humano.

Experiências, conhecimento e ciência em relação ao Recurso humano para a Saúde Materna enriqueceram o Simpósio Internacional

Para o Ministério da Saúde, não há atualmente uma diversidade de perfis e competências que dão resposta às exigências dos problemas de saúde materna e diretrizes de política pública, com perfis que se concentram em algumas cidades, mas possuem a deficiência de trabalhadores de saúde em outras áreas. Por isso há a intervenção de parteiras de grupos étnicos, grupos rurais com diferentes processos de formação e de diferentes níveis de organização.

O vice-ministro da Saúde e Proteção Social, Fernando Ruiz Gómez, destacou a nova política de saúde pública na Colômbia: "Nós temos uma política de atenção integral em saúde formulada pelo Ministério da Saúde, no qual se presta o desenvolvimento de um modelo voltado para o paciente, que tem a necessidade de recursos humanos suficientes com qualidades e competências adequadas que esse novo modelo busca”.

Conhecer as experiências dos conhecimentos ancestrais das parteiras do Pacífico, a experiência de formação das obstetras do Chile, a inter-relação da medicina ancestral com a medicina de ciência do México e as estratégias de atenção na saúde materna em associações e organizações de médicos e enfermeiras da Colômbia, foram algumas das intervenções que enriqueceram o evento para reforçar as competências dos trabalhadores em saúde e os agentes comunitários na atenção integral na gravidez, parto e pós-parto.

Não só as ações das comunidades, mas também as parteiras do Pacífico, mostraram o acompanhamento à grávida e à toda a família. Rosmilda Quiñones ressaltou: "Monitoramos não só a gestante, mas também a sua família. Recomendamos algumas plantas, principalmente as alimentícias e, no trabalho de parto, também as utilizamos, promovendo, dessa forma, o atendimento de 40 dias após o parto".

Enquanto isso, José Alejandro Gonzáles, Diretor de Medicina Tradicional e Desenvolvimento Intercultural do Ministério da Saúde do Governo Federal do México, destacou a sinergia de atenção nos serviços de saúde com a medicina tradicional, que foram oficializadas no México. "Fomos descobrindo que a medicina tradicional indígena vai além de plantas curativas; tem a ver com as visões de mundo dos povos indígenas ainda presentes do México. Validamos os efeitos da medicina ancestral e temos cinco Estados onde os usuários dos serviços de saúde podem escolher seus cuidados de saúde, condicionando salas de parto para que a mulher fique em uma posição sentada e não deitada, lógicas ancestrais que facilitam o parto", afirmou.

Houve também a discussão sobre as principais instituições do trabalho e formação de obstetras em saúde materna: "Somos cerca de oito mil obstetras no país e sabemos que o Peru tem 36 mil obstetras trabalhando no sistema público", destacou Ibelice Segovia, obstetra do Chile e Consultora do Fundo de População das Nações Unidas. "Atendemos tudo relacionado à gravidez na adolescência e o tema de doenças sexualmente transmissíveis, entre outros aspectos", afirmou.

As experiências nacionais da Federação Colombiana de Obstetrícia e Ginecologia apresentaram:

  • a visão da gestão e formação de recurso humano para a atenção em saúde materna, com ênfase em áreas rurais de baixa densidade populacional;
  • programa de melhoria de competências na saúde para a prevenção e atenção de emergências obstétricas;
  • contribuições para a saúde materna, como as competências profissionais dos médicos e enfermeiros da Colômbia.

Formação, capacitação e aprendizagem de conteúdos dos recursos humanos para a saúde materna

As políticas de saúde do governo colombiano, decorrentes do novo modelo de atenção em saúde, a configuração de redes de prestação de serviços e  a conformação das equipes integrais de saúde estão de acordo com as particularidades de cada regiões do país. Luis Carlos Monsalve, Diretor do Desenvolvimento do Recurso Humano do Ministério da Saúde e Proteção Social, destacou: “O modelo busca colocar as pessoas, suas famílias e as comunidades no centro do sistema de saúde, para que a saúde materna seja uma das rotas integrais de atenção à saúde materna e infantil, adaptadas às particularidades de cada contexto territorial e populacional. Por exemplo, o sistema de saúde colombiano já identifica as parteiras tradicionais, para treiná-las no que realmente seja pertinente, sem infringir tradições culturais e ancestrais”.

Precisamente, a Representante Legal da Associação de Parteiras do Pacífico Asoparupa, destaca o processo de formação e capacitação que está sendo realizado em sua associação: "Temos recebido capacitações, fóruns, troca de saberes, a nível nacional e internacional. Essas formações são dadas através da oralidade, ou seja, com as conversas entre médicos, paramédicos e parteiras. O mais importante é que já temos o reconhecimento do Ministério da Saúde."

Para Jorge Enrique Tolosa, representante da ONG Funda Rede Materna, docente da Universidade de Antioquia, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia em convênio com a Universidade de Oregón, a atenção da saúde deve levar em conta os tipos de recursos humanos, segundo o contexto cultural. "No caso da saúde materna, há diferentes níveis de recursos humanos, de acordo com a complexidade que considera duas estratégias específicas para a formação da atenção primaria, onde o Sena vem formando corretamente no nível técnico. Quando se apresenta complicações, exige-se outro nível de atenção médica especializada para prevenir complicações, inclusive a morte", afirmou.

Mesa Setorial de Saúde e Sena, promovendo a abordagem de treinamento intercultural

O exercício da Mesa Setorial de Serviços de Saúde sintonizou sua gestão com as políticas do Ministério da Saúde e Proteção Social, incluindo a proposta do novo modelo de atenção de saúde.

"Esta formação se realiza de maneira conjunta, tanto com os profissionais especializados e as parteiras, dada a natureza do setor de saúde", afirmou Ruth Mireya, Assessora da Rede de Saúde do Sena, mencionando os impactos dessas ações de formação. "É uma estratégia de construção conjunta com o ânimo de fortalecer, melhorar ou mudar práticas sanitárias saudáveis, levando em conta todos os costumes e crenças das comunidades, respeitando suas crenças para que elas possam dar essa atenção de parto as suas comunidades e minimizar o risco materno e infantil nas mesmas", destacou.

De acordo com Gerardo Arturo Medina, Diretor Adjunto do Centro de Formação de Recursos Humanos em Saúde do Sena Distrito Capital e Secretário Técnico do Mesa Setorial de Serviços à Saúde, referiu-se à concepção de perfis e programas de saúde pertinentes: "Este encontro internacional foi fundamental para o Sena, porque ele deu entrada para o Conselho do Setor de Serviços de Saúde para tomar decisões sobre a construção de competências e perfis. Além disso, o Banco pode ajustar seus programas de treinamento que são necessários para estes novos perfis e competências a serem identificados, assim como para que os prestadores de serviços de saúde possam adaptar as competências dos seus trabalhadores a essa exigência".

As recomendações dadas nesse Simpósio Internacional foram compiladas pelo Ministério da Saúde e Proteção Social, que serão estudadas e analisadas no marco do Novo Modelo de Atenção em Saúde.

Confira as fotos do evento aqui.

Fotos/Ilustrações: 

Sena