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Publicado em: 16/09/2022

EPSJV promove oficina sobre Saúde mental e a formação de técnicos em saúde

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Julia Neves/EPSJV

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) realizou, no dia 13 de setembro, a oficina “Saúde mental e a formação de técnicos em saúde” como parte do 2º Ciclo de oficinas "A Formação e o Trabalho dos Técnicos em Saúde no mundo pós-Covid-19”. A iniciativa é realizada em cooperação com a Rede Internacional de Educação de Técnicos em Saúde (RETS), a Rede Ibero-Americana de Educação de Técnicos em Saúde (RIETS) e a Rede de Escolas Técnicas de Saúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (RETS-CPLP). O evento conta também com apoio do Centro de Relações Internacionais (Cris/Fiocruz) e da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz.

Na abertura do evento, Sebastián Tobar, assessor do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz (Cris/Fiocruz), ressaltou que os problemas de saúde mental são uma importante causa de mortalidade na região das Américas, mas ainda assim, são negligenciados no campo da saúde pública. Segundo ele, os profissionais de saúde foram extremamente afetados durante a pandemia da Covid-19, principalmente por questões emocionais. “Durante a pandemia, a força de trabalho em saúde ficou sobrecarregada e a falta de informação sobre a doença, no início, gerou um estresse adicional, fazendo com que esses trabalhadores tivessem que aprender na prática e se readaptarem de forma ágil para dar respostas”, apontou.

Nesse cenário, Carlos Eduardo Batistella, coordenador de Cooperação Internacional da EPSJV, destacou que é preciso trazer a saúde mental para a agenda de discussão, formulando algumas questões: “Em que medida a pandemia agudizou os problemas de saúde mental da população? Que políticas e estratégias têm sido priorizadas pelos governos? Como abordar o sofrimento psíquico contemporâneo sem incorrer no aumento da medicalização da sociedade? Qual o papel dos técnicos em saúde no atendimento às necessidades em saúde mental? Essas foram algumas perguntas que, de alguma forma, nos tocaram e que tentamos responder”.

Em sua fala, María del Carmen Calle Dávila, secretária executiva do Organismo Andino de Saúde (Oras-Conhu), do Peru, sinalizou alguns dos impactos psicológicos que atingiram os profissionais de saúde durante a pandemia. Segundo ela, o que levou ao estresse e esgotamento mental, além de transtornos mais graves, foram as incertezas e medidas restritas de biossegurança; maior exposição e risco de serem infectados; medo de contaminar pessoas, em especial, familiares; além de maior demanda no ambiente de trabalho que geraram insegurança. “No começo, gera uma inquietude e nervosismo. Depois, um sentimento de medo, bloqueio e fuga, que levam ao esgotamento e desânimo. E, por último, depressão, ansiedade, pensamentos suicidas e síndromes, como Burnout, ou seja, o esgotamento profissional”, apontou.

Sobre quais devem ser as estratégias para proteger a saúde mental desses trabalhadores, María del Carmen afirmou que são necessárias ações em nível individual e organizacional de apoio a pessoas com alto nível de estresse e sofrimentos emocionais. “Em nível individual, é preciso orientar as pessoas sobre necessidades básicas, como pausas de descanso durante a jornada e contato com redes de apoio. Em nível organizacional, construir de maneira progressiva, um ambiente de trabalho voltado a proteção da saúde mental dos trabalhadores”, disse.

 

Saúde mental e a formação de técnicos em saúde

Dando continuidade ao evento, o professor-pesquisador da EPSJV, Dênis Petuco, reuniu algumas contribuições sobre a formação em saúde mental dos trabalhadores de saúde no contexto de pós-pandemia. Na visão dele, quando o campo da saúde mental pensa o cuidado em saúde para a população que faz uso de álcool e outras drogas, ele se encontra muito fortemente ligado às políticas de habitação, de trabalho e de renda. “Nesse contexto pandêmico, em especial na região das Américas, o que vemos é o acirramento das contradições e das desigualdades sociais. O desemprego, por exemplo, está na faixa de 10%, com variações de um país para outro”, apontou. E concluiu: “Uma das coisas que mais têm me chamado atenção, nesse contexto de formação em saúde mental, é a importância do pensamento decolonial na construção de processo formativos, de práticas além do pensamento ocidental ou ainda não-ocidental para pensar no cuidado dirigido a essas populações”.

Para a professora da Universidade de Buenos Aires, da Argentina, Jorgelina Diorio, não existe saúde mental se não houver justiça social, assim como não existe saúde integral sem saúde mental, sem ampliação de direitos e sem o acesso aos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. Ela citou ainda alguns desafios para a formação em saúde mental. "É preciso compreender a saúde mental não somente como ausência de patologia, mas também como promoção de direitos. Precisamos de modelos eficazes de redução de riscos e danos, na medida em que pensamos em propostas centradas na participação das comunidades locais”, apontou.

O professor na Universidade Central de Chile, Jesus Morales Romero, iniciou sua apresentação destacando que não existe saúde sem saúde mental. “Não podemos pensar no enfoque de saúde separando o sujeito da atenção em diferentes áreas. Entendemos a importância que tem a saúde mental também para a saúde pública”, disse. Para Romero, é preciso colocar no debate uma outra visão sobre a vida e a convivência em comunidade e repensar a sociedade enquanto trabalho produtivo. “Precisamos reconhecer as violências do sistema econômico e social, assim como a ecodependência e a sustentabilidade ambiental que devem fazer parte de qualquer luta política para mostrar o vínculo entre crise e mal-estar, ou seja, a doença mental é um processo erosivo que poderia ser evitado com intervenção social e política”, finalizou.

 

Assista aqui:

Transmissão em português

Transmissão em espanhol

 

Veja as apresentações:

Jorgelina Diorio - Salud Mental en el contexto de la pospandemia: formación en salud mental desde una perspectiva de reducción de riesgos y daños

Jesus Morales Romero - Salud Mental en crisis, La Pandemia - invisible que se instala. La tensión en el quehacer de les trabajadores de salud.