Educação Interprofissional: colóquio mostra a importância do tema para a formação de técnicos em saúde
Nos dias 13 e 20 de agosto, das 16h às 19h (hora de Brasilia), foi realizado o I Colóquio Latino-Americano de Educação Interprofissional e a formação de Técnicos em Saúde. O evento, que seria realizado em maio na Colômbia, acabou ocorrendo de forma digital, em duas sessões, por conta da pandemia de Covid-19. A realização do Colóquio, coordenada pelo Servicio Nacional de Aprendizaje da Colômbia (SENA), por meio da Mesa Setorial de Serviços de Saúde, e pela Secretaria Executiva da Rede Internacional de Educação de Técnicos em Saúde (RETS), contou com apoio do Ministério da Saúde da Colômbia, da Organização Pan-Americana da Saude (Opas/OMS) e da Fundação Universitária da Área Andina (Areandina).
O Colóquio, para o qual se inscreveram quase mil participantes de vários países da região, teve por objetivos: socializar iniciativas da região da América Latina e Caribe em educação interprofissional (EIP); compartilhar conhecimentos e experiências de incorporação de técnicos em saúde na EIP; promover a implementação de planos nacionais de educação interprofissional (EIP); e tornar visível e fortalecer a educação técnica no desenvolvimento da implementação dos planos nacionais de EIP.
Na primeira seção, especialistas da América Latina e Caribe apresentaram e discutiram o tema. No segundo dia, foram apresentados 13 trabalhos aprovados pelo comitê avaliador.
Para Helifrancis Condé Groppo Ruela, coordenador de Cooperação Internacional da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Secretaria Executiva da RETS, o encontro atingiu os objetivos propostos. "O Colóquio permitiu compartilhar experiências de diversos países da América Latina, aproximando a discussão de questões de EIP e a formação e trabalho de técnicos em saúde", disse, completando: "Para a RETS, além do sucesso do evento em si, podemos destacar o fortalecimento das instituições organizadoras e da própria Rede, por conta do trabalho compartilhado e colaborativo na construção da iniciativa".
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Leia os Anais do Colóquio com os trabalhos aprovados para publicação.
Sessão 1: Especialistas ressaltam a relevância do tema
Na abertura do evento, o diretor geral do SENA, Carlos Mario Estrada Molina, agradeceu a todos os envolvidos na organização do colóquio, deu boas vindas aos presentes e destacou a importância do aprendizado permanente e da necessidade de se estimular o trabalho cooperativo em todas as áreas do saber. Após a fala de Molina, os mais de 400 participantes, assistiram a um breve vídeo com saudações dos organizadores do Colóquio.
A programação do primeiro dia começou com a conferência 'La incorporación de la Educación Interprofesional en la formación de técnicos en salud, un aporte para el diseño de planes y políticas nacionales de educación y salud´, proferida por José Rodrígues Freire Filho, representante da Rede Regional de Educação Interprofissional das Américas (REIP). José Rodrigues Freire iniciou sua apresentação traçando um breve histórico dos fundamentos que vêm orientando a formação em saúde através dos tempos.
Ao longo de sua fala, ele retomou o conceito de EIP – "A Educação Interprofissional envolve alunos/profissionais de duas ou mais profissões que aprendem juntas, principalmente quanto ao papel que cada uma desempenha, por meio da interação entre elas em uma agenda comum" – e mostrou as principais estratégias necessárias a sua implementação, sempre ressaltando a importância da EIP para o fortalecimento dos sistemas nacionais de saúde, especialmente no que se refere à atenção primária, e a melhoria da atenção à saúde das populações. Ele também mostrou o trabalho que a REIP realiza no estímulo à construção de políticas de EIP em saúde nos países que compõem a rede. Por fim, ele buscou refletir qual é o lugar dos técnicos na EIP. "As experiências começaram na Colômbia, Panamá, Honduras e República Dominicana e mostram que é possível a inclusão da EIP no processo de formação de técnicos em saúde", disse, ressaltando que, no entanto, ainda existem poucas experiências no nível da formação desses trabalhadores.
Por fim, ele destacou o papel que a RETS pode assumir na incorporação da EIP na formação dos técnicos em saúde, com o propósito explícito de melhorar a qualidade do atendimento. "É possível afirmar que a colaboração deve estar presente na interação entre os profissionais independentemente de seu nível de formação, pois o trabalho em saúde, em sua essência, se materializa nas relações interpessoal e interprofissional", concluiu.
A programação continuou com o painel 'Planes y Políticas de la Incorporación de la Educación Interprofesional y Educación Técnica en Salud', do qual participaram Larisa Carrera, decana da Universidade Nacional do Litoral (UNL) - Santa Fé, Argentina; Marcelo Viana da Costa, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Brasil); Rosa Adelina Cespedes, diretora Acadêmica de Saúde, do Ministério de Educação Superior, Ciência e Tecnologia da República Dominicana; e Gerardo Arturo Medina Rosas, subdiretor do SENA e secretário técnico da Mesa Setorial de Serviços de Salud da Colômbia. Os comentários finais foram feitos por Helifrancis Condé, que fez uma síntese das apresentações do painel, buscando refletir sobre os desafios do setor saúde para incorporação da Educação Interprofissional na formação dos seus trabalhadores.
Larisa Carrera, que trouxe a experiência da Argentina nesse tema, iniciou sua apresentação explicando que a formação técnica em saúde no país ocorre em trajetórias formativas bastante diversificadas, tanto que se refere às experiências de aprendizagem quanto ao contexto em que elas se desenvolvem. Nesse sentido, há técnicos com diferentes níveis de formação, com titulações distintas, ainda que prevaleça a formação de nível superior, incluindo o nível universitário. Ela apresentou três tipos de experiências de EIP que estão sendo realizadas pela Faculdade de Ciências Médicas da UNL: as centradas no trabalho com a comunidade, as de simulação e as que se situam no marco da pandemia para equipes interprofissionais. Essas últimas visam contribuir para o cuidado da equipe de saúde e partem da premissa de que essas equipes estão enfrentando um aumento significativo na demanda por atendimento, com a consequente sobrecarga física e mental dos trabalhadores, somada a um maior risco de contrair a infecção. Ela também apresentou estudos que indicam a simulação como uma ferramenta privilegiada em tempos de pandemia.
Marcelo Viana, um dos principais especialistas brasileiros em EIP, falou sobre os desafios de incorporação dessa estratégia para a formação dos trabalhadores técnicos de nível médio. Segundo ele, a lógica de formação desses trabalhadores e a forte divisão técnica do trabalho em saúde acabam imprimindo uma dicotomia entre o trabalho manual e o trabalho intelectual que resulta na pouca participação dos trabalhadores técnicos de nível médio nos processos decisórios. Ele ressaltou que o trabalho em saúde se materializa num ambiente de constante interação entre os diferentes profissionais da área, mas que a maioria dos profissionais tem conhecimentos limitados sobre a complexidade da colaboração, que surge em oposição à tradicional competição. Nesse sentido, ele apresentou as competências colaborativas necessárias à mudança de paradigma e o quanto isso pode resultar em melhorias para a atenção à saúde.
Como dificuldades para o desenvolvimento da EIP, ele ressaltou as rotinas hospitalares fragmentadas, quase sempre desalinhadas do que se tenta implementar durante a formação dos trabalhadores, e alguns estereótipos de comportamentos profissionais que geram preconceitos e se opõem à mensagem sobre a importância do trabalho interprofissional colaborativo. No que se refere à inserção da EIP na formação de técnicos de nível médio, ele cita algum passos importantes, que envolvem: identificar mecanismos para a adoção da EIP nos currículos e abordagens para formar efetivamente trabalhadores com competências colaborativas; explorar abordagens para incorporar a prática interprofissional como um componente central no trabalho em saúde; rever as iniciativas de EIP existentes para identificar os efeitos e possibilidades a serem incorporadas; projetar e implementar pesquisa para a construção de evidências e identificação de possibilidades na adoção da EIP; e valorizar iniciativas de desenvolvimento docente para a promoção do ensino e da aprendizagem interprofissionais, bem como para o fortalecimento da educação interprofissional.
Compartilhar os avanços na implementação da EIP em Saúde na República Dominicana foi o objetivo de Rosa Cespedes. De acordo com Rosa, a incorporação da EIP na formação em saúde está diretamente relacionada aos compromissos assumidos pelo país com as metas propostas pela Opas/OMS com relação aos recursos humanos em saúde. Entre outras coisas, foi definido um Plano de Ação para a Educação Interprofissional e realizado um diagnóstico da situação da EIP em instituições de Ensino Superior. Além disso, foi elaborado o Guia para implantação de atividades de EIP em instituições de ensino superior. Segundo ela, o diagnóstico buscou identificar as iniciativas de EIP, dentro da oferta curricular de saúde das instituições de ensino superior e permitiu identificar as universidades que poderiam participar da iniciativa.
Rosa apresentou recomendações para avançar com a EIP como estratégia nos processos formativos e listou os principais desafios que devem ser enfrentados, tais como sensibilizar as novas autoridades sobre a importância e o compromisso de promover a EIP; atualizar o plano, ajustando-o a novos contextos; inserir o tema da EIP de forma clara nas normas de treinamento e creditação de carreiras na área da saúde; e avaliar os ambientes virtuais e metodologias que sejam eficientes para a prática da EIP. No que se refere à educação profissional técnica, ela ressaltou a necessidade de se fortalecer os programas de formação com a integração do EIP em diversos níveis, como estratégia de fortalecimento das equipes de saúde.
Gerardo Medina começou sua apresentação mostrando a importância que o SENA tem no contexto da formação técnica na Colômbia. Segundo ele, a instituição, que está presente em todo o território nacional e impacta anualmente a vida de sete milhões de colombianos, lidera as tarefas de geração, apropriação e disseminação do conhecimento para os setores produtivos do país; interage com entidades de gestão, administração de recursos, prestação de serviços, fabricação de insumos e pesquisa científica e tecnológica; promove empregabilidade, inovação, eficiência, competitividade, produtividade e desenvolvimento sustentável; e responde às necessidades do meio ambiente com flexibilidade, oportunidade, qualidade e relevância. De forma concisa, Medina também proporcionou uma visão geral da formação de técnicos e tecnólogos, que representam 47% da força laboral do setor, e dos elementos de EIP na Colômbia.
De acordo com Medina, o conceito funcional e organizacional de equipe multidisciplinar em saúde, que visa um alto nível de resolução nos serviços primários, da gestão e do acesso coordenado a todos os demais serviços, incluindo os de média e alta complexidade, destaca, em igual medida, o papel de especialistas, profissionais, técnicos e tecnólogos treinados na abordagem da saúde da família e da comunidade, para responder no nível primário pela implementação e articulação das diferentes abordagens da política. Segundo ele, a definição de equipe multidisciplinar justifica, por si só, a incorporação da EIP na formação dos técnicos que trabalham no setor. Como elementos da EPI na Colômbia, ele destacou: educação centrada na pessoa, abordagem de competência, interação de processos entre programas acadêmicos, reconhecimento de funções, formação docente e inclusão da EIP na educação continuada e nas políticas nacionais, dentre outros.
Como principais desafios a serem superados, ele citou a articulação de órgãos e mecanismos decisórios de competências, profissionais e laborais; acordo entre profissões e ocupações (sindicatos, associações, entidades governamentais, instituições de formação); integração entre técnicos e profissionais nas discussões em equipe; construção de currículos e estratégias de ensino para o aprendizado em equipe; e formulação de Quadros Nacionais de Qualificações.
Finalizando a sessão 1 (13/08), Helifrancis Condé destacou a complementariedade das apresentações anteriores para compreensão do tema e o papel fundamental da Opas/OMS na promoção da EIP. Ele também reconheceu o importante trabalho que a Organização vem desempenhando nesses tempos de pandemia em que alguns poucos países contestam a capacidade de liderança dos organismos globais de saúde. Além disso, salientou que muitos dos processos de mudança na formação em saúde passam por avanços na formação dos docentes, mas que, infelizmente, ainda há carência de políticas e iniciativas mais abrangentes e estruturadas nessa área. Respondendo a uma pergunta provocadora da conferência de Jose Rodrigues sobre qual o lugar dos técnicos em saúde na EIP, Helifrancis foi enfático: "A inserção desses trabalhadores deve e precisa ser coordenada com oportunidades de formação crítica e de qualidade".
Sessão 2: Conferências e trabalhos mostram experiências e apontam grandes desafios
A agenda do dia 20 de agosto, cuja abertura foi feita por Carlos Eduardo Jurado Moncayo, diretor executivo da Câmara Setorial da Associação Nacional de Empresários da Colômbia (ANDI) e presidente da Mesa Setorial de Serviços de Saúde, contou com duas conferências e apresentação de 13 trabalhos que abordaram diversas matizes da EIP. Após dar boas vindas a todos, Carlos Moncayo destacou que o momento em que estamos vivendo torna muito clara a necessidade de trabalharmos interdisciplinar, interinstitucional e intersetorialmente. "Temos que trabalhar em conjunto", enfatizou.
Adriana Lucia Dueñas Garzón, instrutora e pesquisadora do Centro de Formação de Talento Humano em Saúde (CFTHS/SENA) foi responsável pela primeira conferência do dia: 'Educación Interprofesional: Retos en la formación de técnicos en salud'. Adriana ressaltou o grande interesse que a EIP vem despertando na comunidade científica e apresentou alguns resultados do projeto de pesquisa e inovação, cujo objetivo foi desenvolver uma proposta que facilite a educação interprofissional no CFTHS partindo de uma estratégia didática. O projeto teve início com uma revisão do estado da arte que analisou 66 artigos sobre o tema e deu origem a uma matriz com as 14 principais estratégias didáticas que vêm sendo utilizadas. Atualmente, o grupo de pesquisa está desenvolvendo um projeto piloto que estará sendo implantado em novembro deste ano e que tem como referência o curso 'Educación Interprofesional en Salud' (AVASUS-UFRN)
De acordo com ela, o projeto parte do conceito de Formação Profissional Integral, um processo educacional teórico-prático que se baseia no desenvolvimento de conhecimentos técnicos, tecnológico, atitudes e valores para o desenvolvimento humano e convivência social, permitindo que a pessoa aja de forma crítica e criativa em contextos produtivos e sociais, ou seja, no mundo da vida. "Esse processo se sustenta no saber saber, saber fazer e saber ser, que se constitui na essência da integralidade da formação profissional e permite aos estudantes crescerem como pessoas, cidadãos e trabalhadores", explicou. Segundo Adriana, o desenho curricular proposto está baseado na aquisição de competências específicas, transversais e chaves, e a formação é feita por meio de projetos. Ela ressaltou que o trabalho colaborativo em equipes multiprofissionais se baseia na ideia da interdepêndencia e pressupõe a redução das relações de poder entre as diferentes profissões. Ao final de sua apresentaçao, ela reafirmou a formação de instrutores como fundamental para o sucesso da iniciativa, apontando a necessidade de capacitação desses instrutores nas teorias metodológicas da EIP, a fim de dinamizar o processo de implantação da iniciativa no CFTHS, e ser referência para outras instituições de nível técnico a nível nacional.
Na segunda conferência do dia, a coordenadora da Estratégia de Educação Interprofissional em Saúde da Santander University para Américas (Colômbia), Piedad Cecilia Serpa, apresentou a Experiência da Rede Acadêmica para a Educação Interprofissional (UNIREDE EIP), formalizada em novembro de 2019, com o lema 'Juntos transformando a formação e o desempenho na saúde'. A UNIREDE é uma rede formada por instituições de ensino superior da América Latina e Caribe, interessadas em contribuir para desenvolvimento e a sustentabilidade da educação interprofissional e prática colaborativa (EIP e PC), compartilhando experiências e realizando atividades conjuntas destinadas a promover o seu fortalecimento nos níveis institucional, nacional e regional.
O fato de quase 30% das Universidades que compõem a rede também oferecerem formação técnica de nível superior representa, segundo Piedad, um grande potencial para o desenvolvimento de experiências mais amplas de formação interprofissional. O trabalho da UNIREDE é realizado por meio de quatro comissões: a curricular, a de formação de formadores, a de pesquisa e a de visibilização. "No caso da Comissão Curricular, um dos grandes desafios está relacionado à superação do debate entre os conceitos multidisciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar e, por fim, interprofissional, entendendo que a interprofissionalidade transcende a questão disciplinar e tem como foco o cuidado à saúde das pessoas, famílias e comunidades", explicou.
Como levar a EIP para os processos formativos? De acordo com ela, a aprendizagem da EP se dá por meio de práticas didáticas (sala de aula), experiências na comunidade, experiências em serviços assistenciais e processos de simulação, em projetos específicos ou de forma transversal nos cursos existentes. "O importante é assegurar que essas práticas permitam a participação ativa (de interação) por dois ou mais membros de uma equipe de saúde que participa da avaliação ou gestão do paciente, família ou comunidade; que seja um processo de aprendizagem e socialização experiencial; um processo no qual os participantes aprendem com, de e sobre o outros, tanto dentro quanto entre disciplinas, por meio da experiência em si; que sejam experiências andragógicas, não hierárquicas e descentradas; que tenha como foco o melhor resultado possível para o paciente; e que seja um processo de troca de conhecimento e valores", esclareceu. Ela também apresentou resultados de alguns estudos de percepção dos estudantes sobre a EIP e finalizou lembrando que a implementação da EIP é gradual e seus resultados de longo prazo.
A programação teve sequência com a sessão de trabalhos ‘Incorporação de técnicos em saúde nos processos de EIP’, mediada pela professora e pesquisadora da EPSJV/Fiocruz e da Universidade Federal Fluminense (UFF) Letícia Batista - Brasil - e pelo pesquisador em EIP em Saúde e docente da Universidade Antonio Nariño - Colômbia Edgardo Ortega.
Em seus comentários, os mediadores buscaram destacar os principais pontos de cada trabalho, dentre os quais: a formação docente como uma das pedras angulares para a incorporação da EIP nos processos formativos em saúde; o papel da EIP na promoção da saúde nas comunidades e na construção de conhecimento comum; a possibilidade que a EIP traz para quebrar barreiras entre profissionais com níveis de formação diferentes na busca para a melhor atenção aos usuários do sistema de saúde; a importância da pesquisa com egressos para se compreender o percurso da formação e a relevância das residências de pós-graduação para a atuação em saúde; o reconhecimento do trabalho dos técnicos nas equipes de saúde e os espaços de trabalhos como nichos de formação; a experiência brasileira do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde/Interprofissionalidade) no que se refere à EIP para estudantes das graduações; articulação intersetorial, inovação, adaptabilidade, contexto dependente e equipes multidisciplinares, como elementos fundamentais para a EIP e a prática colaborativa; a necessidade de pensar metodologias apropriadas para a incorporação da EIP, dentre as quais, a metodologia da problematização, que parte da realidade, problematiza essa realidade, teoriza sobre ela e propõe soluções para os problemas; a EIP em cenários formativos fragmentados, a regulação de competências nos diferentes níveis de formação e caminhos de articulação entre esses diferentes níveis; os Núcleos de Educação Permanente em Saúde como forma de materializar a política brasileira de educação para os trabalhadores que já estão atuando nos serviços de saúde; a EIP e o desafio da participação popular na elaboração e consolidação das políticas públicas de saúde e educação; a importância da indução de políticas pelo Estado ou pelas instituições para o fortalecimento da EIP; e a hierarquização dos saberes como um obstáculo para o trabalho colaborativo e as práticas interprofissionais.
Por fim, Edgardo reiterou que os trabalhos apresentados ajudaram ao cumprimento dos objetivos do Colóquio. Para ele, não restou dúvidas de que todos os trabalhos ajudaram a motivar discussões e reflexões a respeito dos diferentes caminhos a seguir, considerando as especificidades nacionais e as possibilidades de trabalho conjunto. Letícia, por sua vez, observou que não há necessidade de um novo perfil profissional para o trabalho integrado, mas da adequação dos perfis que já existem para essa nova forma de atuar.
Apresentações
Rol del docente en la formación del talento humano en salud desde la perspectiva de educación profesionalPaola Ruiz Díaz (Areandina - Colômbia) |
Intersecções entre a interprofissionalidade e a formação em saúde: análises de uma experiência brasileiraDavid Ramos da Silva Rios (UFBA-Brasil) |
La atención en salud basada en el valor desde el aporte del técnico en administración en salud en Unipanamericana CompensarJohn Fredy Barrero Romero (Colômbia - Unipanamericana) |
Percepção de egressos dos programas de residência em área profissional da saúde da Secretaria de Estado da saúde de GoiásRosana Mendes Reis Barbosa (SES/GO - Brasil) |
Modelo de gestión del cuidado, consultorio de enfermería, Clínica de Heridas GiraldoLuis Fernando Giraldo Giraldo (Clínica de Heridas Giraldo - Colômbia) |
Educação interprofissional em saúde e práticas colaborativas: promovendo o trabalho em equipeManuela Valverde Fernandes (UEFS - Brasil) |
Experiencia SENA de Formación de Técnicos en Salud como Educación InterprofesionalNora Luz Salazar Marulanda (SENA - Colômbia) |
Metodologia da problematização como abordagem da educação interprofissional: experiência de uma décadaEllen Rose Sousa Santos (ESP/MA - Brasil) |
Asistente especializado en cuidados personales: una oportunidad para promover derechos a través de la regulación de formación técnica.Isabel Duré (Ministerio de Salud de la Nación - Argentina) |
Fortalecimento da educação permanente em saúde como estratégia para o desenvolvimento de práticas colaborativas.Jacyane Ramos de Sousa (ESP/MA - Brasil) |
Práticas educativas no processo formativo da enfermagem em hospital de ensino na região centro-oeste do BrasilGabriela Lima Gonçalves (Brasil) |
Projeto educação interprofissional em saúde – política indutora de mudanças na universidade e na prática da saúde públicaAmanda Lagreca Venys (Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo - Coordenadoria Regional de Saúde Oeste - Brasil) |
Práticas de educação em saúde e a promoção da educação interprofissional na atenção primáriaPriscila Alves Torreão (UEFS - Brasil) |
Leia a publicação completa com os trabalhos apresentados |
Antecedentes
Em todo o mundo e, especificamente, na região das Américas, a Educação Interprofissional em Saúde (EIP) tem se tornado uma tendência nos processos de gestão e formação de trabalhadores da saúde. Como parte das respostas geradas para gerir as crises nos sistemas de saúde e educação, a EIP promove a participação nos processos de formação e atenção à saúde de alunos e professores de diferentes programas acadêmicos. As experiências disponíveis mostram que o trabalho em equipe potencializa as competências, a qualidade e a relevância das interações em saúde. Nesse sentido, as diversas organizações internacionais e sub-regionais têm promovido a implementação de planos nacionais que orientem o desenvolvimento de políticas que favoreçam a implementação transversal da abordagem da EIP, bem como o desenvolvimento de experiências que gerem exercícios colaborativos de aprendizagem e gestão do conhecimento.
A EIP caracteriza-se, entre outros aspectos, pela articulação intersetorial, pela alocação de populações e territórios específicos como eixos do trabalho em equipe, pela inovação e ampliação de papéis, e pelo fortalecimento de competências transversais por meio de diversas atividades educativas de abordagem crítica.
Na região das Américas, a Opas/OMS com a participação dos Ministérios da Saúde e da Educação, atores dos sistemas de saúde e educação, tem promovido o desenho participativo e a implementação desses planos nacionais, um processo que que já resultou em três reuniões da Rede Regional de Educação Interprofissional das Américas (REIP) e vários insumos.
Os avanços permitem identificar desdobramentos importantes nas atividades de caracterização, formação de formadores, transformação curricular, desenho de políticas, entre outros, que têm se centrado principalmente na participação dos profissionais da área da saúde.
No âmbito do trabalho em equipe, os técnicos e tecnólogos em saúde (considerando as diferentes denominações que esses perfis podem ter nos países) são protagonistas das ações de saúde, tanto pelo vínculo familiar e comunitário para fortalecer a relevância social da tenção quanto pela disponibilidade em territórios onde os serviços de saúde não contam com outros perfis profissionais.
A Rede Internacional de Educação de Técnicos em Saúde (RETS), cuja secretaria executiva é exercida pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz - Brasil (EPSJV-Fiocruz), é uma articulação entre instituições e organizações envolvidas com a formação e a qualificação técnica de pessoal na área da saúde nos países das Américas na África de língua portuguesa e em Portugal. Sua missão é fortalecer os sistemas nacionais de saúde, partindo do pressuposto de que a qualificação dos trabalhadores é uma dimensão fundamental para a implementação de políticas públicas de saúde que atendam às necessidades das populações. No âmbito da RETS, entende-se por trabalho técnico em saúde todo aquele realizado pelo conjunto de trabalhadores que desenvolvem atividades técnico-científicas no setor e compreende as atividades desenvolvidas por auxiliares e agentes comunitários de saúde, inclusive as realizadas. por técnicos de nível superior.
Nos dias 12, 13 e 14 de novembro de 2018, foi realizada, no Rio de Janeiro, a 4ª Reunião Geral da RETS, que incluiu o Seminário Internacional “Os 40 anos de Alma-Ata e o papel dos técnicos de saúde na efetivação dos sistemas universais de saúde”. Na ocasião, cerca de 40 representantes institucionais avaliaram o trabalho realizado ao longo dos anos e, entre outras coisas, elaboraram o plano de trabalho da rede para o período 2019-2022.
Entre os temas de interesse dos integrantes da RETS, principalmente dos integrantes da América Latina, a educação interprofissional se destacou. Ao mesmo tempo em que se reconhece a relevância do tema para a constituição de práticas colaborativas em saúde, principalmente no campo da Atenção Primária à Saúde (APS), é imprescindível reconhecer que pouco se sabe sobre as interfaces desse tema com a educação e o trabalho dos técnicos em saúde, uma vez que a maioria das publicações e experiências no assunto tende a ser relacionada a cursos de formação universitária. Um contexto de lacunas teóricas e práticas que justifica, no caso da RETS, a necessária construção de esforços para superá-las.
Nesse sentido, o Plano de Trabalho da RETS 2019-2022, incluiu um item específico sobra a educação interprofissional e a formação e trabalho dos técnicos em saúde. A ideia é que é fundamental se fortalecer o papel dos técnicos e tecnólogos nos planos nacionais de EIP da região das Américas, incluindo a incorporação do enfoque interprofissional nos programas educativos e o reconhecimento de sua contribuição para a atenção à saúde.
Nesse contexto, a proposta de realização desse evento é aprovada, com a participação e apoio da Opas/OMS, da RETS, do SENA, dos Ministérios da Saúde e de Educação e várias instituições de formação, com o objetivo de mostrar os avanços e desafios na incorporação de técnicos de saúde nos processos de EIP; na formação de técnicos de saúde com enfoque interprofissional; e na incorporação de técnicos de saúde na formulação de planos e políticas nacionais de EIP, educação e saúde.